«Desta terra vos sei dizer que é mãe de vilões ruins e madrasta de homens honestos».
Luiz Vaz de Camões.
Olhando para História, para a vida real deste país e para as suas infindáveis incongruências, partindo da minha própria experiência de vida, sou a solicitar a publicação e a partilha dos versos do angustiado cidadão, Sísifo Miranda, neste jornal da minha habitual participação, isto é, no A Semana Online.
Estou a vir do limbo, dizem alguns.
Atiram com a vírgula silente de
reticência à dorida minha efígie.
Tudo numa toada de me esmagar,
co’a sanha de vã, fútil recorrência,
para com vanglória de vilões ruins
me repelir. E de ímpia fuça gritam -
Qual é precedência no seu linhar? -
Mas eu, que de bimbo nígua tenho,
sinto a sorrir no púlpito d’Olimpo.
Planta-me na alma uma vontade e canta
liberal, genuína, a toda a instância.
Da linhagem de um nobre coronel
a vexado de escravos voluntários,
no espaço sideral de espúria corte,
com a horta de necrófilos chacais,
p’ra me estar a ladrar e a mordiscar.
E eu, um ápiro vadio e não fusível,
que nem sequer de gringo originário,
trago do ledo arcano sítio um lírio
edificante, ingente à minha seara.
Puxo também a lauda de papiro
e malha de grafeno a pôr no peito,
de pujante e aversivo subserviente.
Uma barra de diamantes para doirar,
oh ríspido labor que não desiste!
Nado e crescido, oh lídimo de avô!,
na eira do sabe bem, respira leve,
sem nada de peia na minha mente.
E mesmo nas bafientas catacumbas
ou funduras de sórdidas locandas,
faço o nó de górdio virar de avesso.
Passam por aí a dizer alguns
que o país não precisa de leitura.
E com razão porque sob as patas
do lapuz e almocreve de jumentos
ninguém ousa intuir e refletir.
Pois atrofia o afã e ato de pensar,
e tal que caucionar uma passeata
de sanguinário atroz rinoceronte
na loja de sensíveis iguarias.
Oiço por aí alguns a propalar
A casa B não precisa de cabaz.
A mesa A gere bem e é generoso -
Ao vento falam bué e quiçá certo,
porque a pátria como está não aspira
a uma coleta de honra, ser e ética,
e pior ao acepipe de sal e vinho.
O que conta é importar, importar,
sempre a importar do mesmo lado.
Oh minha gente que nada tem!
Que me importa o desgelo na montanha
e chuva torrencial no território,
se na gricha de assistência nada tenho?
Que me importa refilar se a fatura
nunca falha e o preço sobe imenso?
O matuto do meu compincha julga
que me engana, mas em mim não passa
zero de belzebu. Tenho uma perna
espatifada e enjeitada assaz a outra.
Porém, tributário de uma terceira,
no alto da craveira. Com nula chance
de manquejar, acaba sucedânea da
dupla claudicação. E sou exímio
militar no cume de miradouro,
da casta de excelsa habilidade.
Ando em saltos de pulga e piso o felpo
de cinismo com leveza de uma névoa,
no cabeço das serranias. Caminho
sobre a pluma de pétala-neblina,
para nada pressentir a minha aura.
Sou de junho e de Mateotti antepassado,
caço esteio de génio à minha gesta
e chego aonde me proponho com leda
vista de epifania. Capaz de dar
arrimo de ir ao imbróglio de destino.
Na senda de estrada de quintessência,
sigo leve tal que uma lã, se o Irã
me afete belo provimento e deixe
despontar o interesse de quem já
nasce assaz serôdio e com a vida
na brasa de uma pira desde início,
para arder e torriscar, mas perecer
nunca jamais. E mui menos sob a ânsia
de barganha e com a ira de matança.
Nada obsta o ímpeto de artística
expressão numa pátina de brinde.
A toalha do nitente desbravador,
de escolhos e truncados labirintos,
não pode cair no meio da rua e
por debaixo do pássaro divino.
....
*Na pele de Sísifo Miranda/Escritor
Praia
