Esta visão do radialista e jornalista, de 66 anos, 50 dos quais a trabalhar na rádio pública de Cabo Verde, foi defendida, em entrevista à Inforpress, a propósito do Dia Mundial da Rádio, que se celebra hoje, 13 de Fevereiro.
Segundo este veterano da Rádio de Cabo Verde (RCV), na época, a rádio, no País, teve um certo desenvolvimento mas depois estagnou-se e há, pelo menos, duas décadas está a repetir o mais do mesmo.
No seu entender, isto deve-se ao simples facto de “o dono da empresa, no caso concreto o Estado, não ter interesse nenhum em fazer coisas novas, em dar condições para que a rádio dê um salto qualitativo” porque “está satisfeita porque a agenda da rádio é uma agenda política e que todos os dias diz o que é necessário”. Ou seja, criticou, basicamente a rádio está a acompanhar a agenda governamental.
“É esse o nosso principal problema. Precisamos de uma agenda própria. Teve uma reunião, já há quase duas décadas, que disse que a minha principal frustração é não ter trabalhado numa redacção onde é que antes de começarmos a fazer qualquer coisa, antes de sairmos para a reportagem, fazemos uma conferência de redação. Na altura, na rádio não tinha, mas é uma coisa que por momentos tem e depois chega numa altura que desaparece”, sustentou a mesma fonte, para quem “uma conferência de redação bem feita cada um tem que levar a sua proposta de agenda, com o lado crítico das coisas”.
Segundo José Fonseca Soares, outro problema é que a rádio deveria ser muito mais leve, sobretudo agora neste mundo digital, para estar em todos os lugares.
“Não é ficar apenas no estúdio a falar. Mas estar lá onde as coisas estão a acontecer porque a rádio, mais do que a televisão, tem essa obrigação de estar o máximo em directo de locais, dar voz a pessoas e outros que não têm voz todos os dias. É levar o Cabo Verde real para rádio”, frisou, defendendo que “mais dia ou menos dia, tem que descolar deste marasmo e dar um salto qualitativo não só em termos de informação, mas também de programas de actualidade e com uma conceptualização feita para “agradar os ouvidos e não para torturar quem a ouve”.
Para Fonseca Soares, ainda assim, com todos estes problemas e com uma rádio dura e pesada, poderiam estar na rádio a ter um acompanhamento a nível online que não fosse apenas colocar o som, mas também acrescentar, em momentos e programas especiais, parte visuais.
“E já tem muitas rádios que estão a fazer isso. Não podemos fugir da actualidade e do que está a acontecer hoje, no mundo inteiro, a rádio tem que se adaptar. E é esta adaptação que não estamos a conseguir porque estamos muito pesados”, acrescentou, ainda defendendo também que “as rádios privadas deveriam ser aqueles que deveriam empurrar” mas também por causa dos problemas, sobretudo, financeiros, não têm feito esse papel, embora, referiu, já há “alguns casos de rádios privadas a assomar a cabeça nas vagas”.
Conforme o radialista, esta é a visão de quem nutre uma paixão pela rádio, que começou desde os cinco anos, “inquieto” com a curiosidade e “apaixonado” em ver o som a sair da caixa mágica. Aliás, foi graças a esse interesse que diz ter participado e sido aprovado, aos 15 anos, num concurso na Rádio Barlavento, na mesma altura em que o colega Fernando Carrilho iniciou também os primeiros passos na rádio.
“Comecei como técnico auxiliar de estúdio, na sequência disso como a ideia era locução, na altura então fui treinando. E num belo dia, o director chamou-me porque trabalhava sempre uma equipa de duas pessoas e como um locutor estava sempre atrasado e para fazer tempo até ele chegar comecei a anunciar a estação e como ninguém me disse nada continuei”, revelou José Fonseca Soares que, depois, foi chamado pelo director, que já o ouvia, e o convidou para fazer o programa “Telefone e Ritmo”, que esteve na génese do actual “Quando o Telefone Toca”, e passou a receber 500 escudos, 100 escudos a mais do que quando trabalhava apenas como técnico auxiliar.
Devido à sua desenvoltura como técnico e como locutor, também foi aprovado num concurso para fazer o curso de realização audiovisual no Instituto Nacional da Comunicação Audiovisual (INA), na França, onde depois também cursou jornalismo.
Voltou a Cabo Verde e seguiu o seu trabalho na rádio, onde desempenhou várias funções das quais cargos de chefe e director pelo que, conforme revelou, cada vez ficou com “menos espaço para exercer como jornalista”.
“Mas trabalhei sempre com um amor especial, criei muitos programas na rádio e procurei fazer coisas diferentes, a partir de conhecimentos vários, desde programas como primeiro concurso relâmpago”, disse a mesma fonte, que também foi chefe de divisão da Televisão de Cabo Verde, em São Vicente, e fez alguns programas como Talk Show, na Praia e em São Vicente.
A Semana com Inforpress