Em entrevista à Inforpress por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que se celebra a 03 de Maio, o presidente da Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC), Geremias Furtado, realçou a necessidade de se dar combate a esta instabilidade laboral, alegando que o “salário não digno” e a “falta de condições de trabalho” leva a que o jornalista fique condicionado e sem o brio profissional.
Geremias Furtado disse que a AJOC tem vindo a denunciar estas situações de precariedades laborais junto das empresas privadas revelando, inclusive, casos de jornalistas que auferem um salário de 8.000 escudos, ou pouco mais de um salário mínimo, descaracterizando a classe, mas que, entretanto, recusem formalizar a queixa mediante provas, por medo de perderem o emprego.
Furtado não tem dúvidas de que trabalhar nestas condições coloca em causa a própria qualidade do trabalho jornalístico, pois que “não se aceita o mínimo, porquanto quem faz jornalismo é desafiado a melhorar a cada dia, a competir consigo mesmo, para que o amanhã seja melhor que hoje e hoje melhor do que ontem”.
A AJOC, sentenciou, clama por inspecções mais firmes e presentes, mediante visitas surpresas aos órgãos de Comunicação Social pela própria Inspecção-Geral do Trabalho para se inteirar da situação laboral dos trabalhadores, de forma detalhada, para observar se os direitos estão sendo salvaguardados.
Geremias Furtado alertou que o jornalista deve, acima de tudo, estar com vontade de fazer a diferença, de modo a exercer a profissão do jornalismo enquanto “guardião da democracia”, ao mesmo tempo que sublinhou a dependência dos órgãos de comunicação social de publicidades como uma séria ameaça à própria liberdade de comunicação.
“Não é que seja o caso de todos, mas poderá haver um ou dois casos em que há instruções de se evitar tratar um determinado assunto para não desagradar anunciantes e empresas que publicitem nos jornais. Há que trabalhar no sentido de dar uma independência financeira nos órgãos de comunicação social para que sejam livres e com poderes financeiros sustentáveis”, clarificou.
Furtado mergulha a sua tese no último relatório da Repórteres Sem Fronteira em que Cabo Verde perdeu nove posições, “extremamente complicado”, ressalvando que comparativamente a outros países, mostra que no arquipélago cabo-verdiano a liberdade de imprensa poderá estar em perigo.
A esta preocupação, Geremias Furtado junta os recentes episódios que opõem o Jornalismo à Justiça, classificando mesmo de preocupante, o clima entre “dois pilares fundamentais da democracia que estão de costas voltadas”, razão pela qual alertou para a necessidade de trabalhar no sentido de se resolver esta divergência.
“Estamos preocupados também porque, recentemente, ao ver a própria Procuradoria Geral da República criar o seu jornal, o jornal do Ministério Público, isto mostra que há um conflito para com a comunicação social e que não se está a acreditar a Comunicação Social ao ponto de criar o seu próprio jornal, sem ter em conta os principais critérios exigidos no jornalismo e na comunicação”, observou.
O líder da Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde debruçou-se sobre a necessidade de a classe apostar na própria formação, de modo a melhor estar preparada para o contexto actual, isto é, a era digital, e revelou que para os próximos tempos a AJOC almeja continuar a lutar para a melhoria salarial e contribuir para que Cabo Verde melhore a sua posição no ranking.
Trazer novas acções de formação para a actualização de conhecimentos dos jornalistas e equiparados constitui outras preocupações da AJOC para os próximos tempos, sendo certo que vai trabalhar para a assembleia-geral ordinária do próximo ano, bem como a actualização do estatuto da classe que já está um pouco desfasado, pois que a última revisão já leva mais de 10 anos.
A Semana com Inforpress