Apresentado pelo grupo municipal do BE, este voto de pesar foi aprovado com os votos contra de PPM e Chega, a abstenção de PSD, PAN, Iniciativa Liberal, MPT, Aliança, CDS e dois deputados do PS e os votos a favor de BE, Livre, PCP, PS e dois deputados do Cidadãos por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre).
Antes da discussão e votação, o líder do grupo municipal do PSD, Luís Newton, manifestou-se sobre “a perversão do espírito do voto de pesar”, pedindo a reformulação do documento, o que levou à eliminação de uma parte, nomeadamente a ideia de homenagear todos os “que lutaram contra o Estado Novo e contra o colonialismo português, contribuindo para democratização de Portugal e para a libertação das antigas colónias”.
Na parte deliberada aprovada, a Assembleia Municipal de Lisboa decide “expressar o seu pesar pelas vítimas do massacre de Wiriamu, ocorrido em 16 de dezembro de 1972, em Moçambique”.
Do grupo municipal do CDS-PP, a deputada Margarida Penedo considerou que o voto proposto pelo BE apresenta “uma história exagerada e distorcida”, concordando que “houve um massacre”, mas a versão exposta no documento de pesar “é uma versão que exagera e que especula sem qualquer base, a não ser estigmatizar as Forças Armadas portuguesas”.
O deputado Bruno Mascarenhas, do partido Chega, disse que este voto de pesar já foi apresentado “na Assembleia da República, pelo candidato do Bloco de Esquerda à presidência da República, Augusto Santos Silva”, afirmando que “o Chega tem o maior orgulho das Forças Armadas portuguesas, de todo o trajeto que foi feito nas províncias ultramarinas”, e considerando que a proposta do BE “ataca as Forças Armadas portuguesas e ataca os portugueses”.
O social-democrata Luís Newton defendeu que a proposta do BE “não é um voto de pesar, é um documento que tem como único objetivo não demonstrar pesar genuíno por quem sofreu atrocidades de guerra, mas para atacar as Forças Armadas portuguesas, procurando beliscar àquilo que foi e àquilo que é a dignidade das Forças Armadas portuguesas”.
José Inácio Faria, do MPT, afirmou que a proposta do BE “não é um voto de pesar, mas sim de achincalhar” e Madalena Natividade, do CDS-PP, moçambicana e familiar das vítimas, concordou com o pesar, mas considerou que uma parte do texto do documento “é um malabarismo inaceitável”.
Em resposta, a deputada do BE Leonor Rosas indicou que “este debate foi trazido para a sociedade portuguesa nos últimos meses pelo Presidente da República, o presidente da Assembleia da República e pelo primeiro-ministro”, sublinhando que “todas estas figuras do Estado português sentiram a necessidade de, após mais de meio século de apagamento da história, de se chegar à frente”.
“Em 16 de dezembro de 1972, cerca de 400 pessoas foram torturadas e assassinadas por tropas portuguesas num conjunto de aldeias ao longo do Rio Zambeze, em Moçambique, no que ficou para a história como o massacre de Wiriamu (nome de uma dessas aldeias). Estima-se que, no total, o ataque tenha dizimado cerca de um terço da população dessas aldeias”, lê-se no voto de pesar.
No documento, o BE refere que, “durante várias décadas, a Operação Marosca – código militar para o massacre do qual se assinalaram 50 anos em dezembro – foi remetida ao silenciamento e maioritariamente ignorada pelas narrativas oficias sobre a Guerra Colonial e o colonialismo português”.
“É importante que também na Assembleia Municipal de Lisboa se assinale o pesar pelos homens, mulheres e crianças brutalizados e mortos por ação das tropas portuguesas no dia 16 de dezembro de 1972, sublinhando a injustiça da Guerra Colonial e a violência do colonialismo português”, refere o voto aprovado.
A Semana com Lusa