A imprensa espanhola de referência noticia que ao fim de 24 horas, contadas desde segunda-feira, 15, "um forte dispositivo policial, formado por dezenas de agentes da polícia regional catalã, ’Mossos d’Esquadra’, e duas dezenas de carrinhas da Brigada Móvel, estiveram desde as 06:30 nas proximidades da universidade para proceder à prisão de Hasél".
O cantautor condenado por líricas "de cariz terrorista, contra a monarquia" era considerado fugitivo desde sexta-feira, 12 o prazo-limite para ele se entregar voluntariamente à justiça.
Hasél apoiado por 15 ativistas — que barricaram o edifício da reitoria da Universidade de Lérida — quis tornar público o que considera ser um "ataque muito grave" contra a liberdade de expressão.
Apesar disso, a polícia conseguiu contornar facilmente as barricadas colocadas nas entradas do edifício pelos 50 ativistas que se refugiaram no terceiro andar do edifício.
Também "muitos jornalistas e fotógrafos" passaram a noite com os ativistas e com o ’rapper’.
Na segunda-feira, a Audiência Nacional justidficou o indeferimento da suspensão da execução da pena, evocando duas condenações anteriores. Uma em 2017 por um crime de resistência ou desobediência à autoridade. A outra em 2018 por transgressão.
"Com este registo criminal seria absolutamente discriminatório em relação a outros criminosos, e também uma grave exceção individual na aplicação da lei, totalmente injustificada, a suspensão da execução da pena a este condenado", argumentou.
200 personalidades pedem liberdade de Pablo
A Audiência Nacional acrescentou que "campanhas" a seu favor "não podem determinar a inaplicabilidade da lei atual, mas [apenas] a sua eventual modificação pelo Parlamento".
Em 8 de fevereiro, mais de 200 personalidades, incluindo o realizador Pedro Almodóvar e o ator Javier Bardem, assinaram um manifesto que pedia a libertação do ’rapper’ e a alteração da lei.
"A perseguição a ’rappers’, autores de tweets, jornalistas, bem como de outros representantes da cultura e da arte, por tentarem exercer o seu direito à liberdade de expressão, converteu-se numa constante", lê-se no manifesto divulgado no El País.
"O Estado espanhol passou a encabeçar a lista de países que mais represálias lançou contra artistas pelo conteúdo das suas canções. Agora, com a detenção de Pablo Hasél, o Estado espanhol está a equiparar-se a países como a Turquia ou Marrocos", criticaram.
Os factos pelos quais o ’rapper’ foi condenado remontam a 2014 e 2016, quando publicou uma canção no YouTube e dezenas de mensagens no Twitter, acusando as forças da ordem espanholas por tortura e homicídios.
Numa das mensagens, escreveu, ao lado de uma fotografia de Victoria Gómez, membro dos Grupos de Resistência Antifascista Primeiro de Outubro (GRAPO), uma organização considerada terrorista: "As manifestações são necessárias, mas não suficientes, apoiemos aqueles que foram mais longe".
O cantor também acusou o rei emérito Juan Carlos e o filho, Felipe VI, de vários crimes, incluindo homicídio e desvio de fundos.
O caso motivou manifestações a favor do ’rapper’ e provocou incómodo no Governo liderado pelo socialista Pedro Sánchez.
Reforma para descriminalizar
O executivo espanhol prometeu, no início deste mês, "uma reforma" legislativa para que os "excessos verbais cometidos no âmbito de manifestações artísticas, culturais ou intelectuais" não sejam punidos criminalmente.
Segundo a porta-voz Maria Jesus Montero disse ontem, "a reforma legislativa expressa a vontade do governo" liderado por Pedro Sánchez "de conferir um enquadramento que garanta a liberdade de expressão, em segurança".
Entretanto, a lei da segurança de 2015 não abasta para evitar a condenação à prisão do rapper cujo nome de registo é Pablo Rivadella.
Fontes: EFE/El País/TVE. Foto(EFE): Pablo Hasél detido, ao fim de 24 horas barricado com 50 ativistas no 3º andar da reitoria da universidade de Lérida, Catalunha.