O STF, que agora decidiu maioritariamente pela extradição de Jaime Enrique Saade Cormane, redime-se assim do "vergonhoso" julgamento que a Justiça do Brasil protagonizou desde 2020 ao negar a extradição do condenado a 27 anos de prisão na Colômbia pela morte e violação da adolescente Nancy Mestre.
Durante estes 29 anos de busca por justiça para a filha, Martín Mestre a cada tentativa frustrada voltava a tentar. Assim fez, depois do empate em 2022 no STF do Brasil: voltou à luta, apelou da decisão do STJ, voltou a suplicar em apelo à polícia colombiana para que continuassem a procurar outros envolvidos no crime.
Desdobrou-se em entrevistas na Colômbia e no Brasil, em que dizia ter a esperança de que "os magistrados do Supremo do Brasil" revejam a extradição de Jaime Saade.
"Espero, do fundo do meu coração, que seja feita justiça à Nancy Mestre assassinada aos 18 anos. Se ele for extraditado, eu poderei dizer que não vivi em vão. Meu Deus, eu preciso ver o assassino da minha filha na Colômbia, preso".
Imbroglio. A decisão dos magistrados brasileiros foi dificultada pelo imbróglio jurídico que o caso acabou por constituir. Afinal, revelou-se que o fugitivo é cidadão brasileiro desde fevereiro de 2020 (após ser preso), com a formalização da união de 25 anos com uma cidadã brasileira com quem tem um filho de 24 anos e uma filha de 16 (em 2022).
A polícia federal de Belo Horizonte comunicou, em 29 janeiro de 2020, a detenção do fugitivo colombiano sinalizado na lista vermelha da Interpol desde 1998. Entrevistado online, o pai de Nancy Mestre mostrou um novo alento na sua busca por justiça ao fim de 26 anos desde o dia em que perdeu a filha adolescente.
Réveillon de 1993-94
Jaime Enrique Saade Cormane, de 29 anos, amigo da adolescente e prospetivo namorado tinha ido buscar Nancy à casa para a festa do Réveillon, com hora marcada para o regresso.
A Nancy nunca mais regressou. Quando o pai foi à sua procura, já não a encontrou nem ao seu amigo, um jovem administrador de empresas, filho da alta burguesia colombiana. A mãe de Jaime contou que tinha havido um acidente e a adolescente fora levada ao hospital.
Martín Mestre ouviu, no hospital, o pai de Jaime a dizer-lhe que Nancy se suicidara. Em busca da verdade, o pai levou à investigação policial que provou que Nancy fora atingida com uma bala na cabeça e que não havia pólvora nas suas mãos. A sua morte não podia ter resultdao de uma ferida autoinfligida.
Em 31 de janeiro de 2020, 26 anos depois dessa manhã trágica, Martín Mestre entrevistado na TV brasileira "implorava aos magistrados do Supremo do Brasil" que extraditassem o assassino, que além de violar e matar Nancy, tinha profanado o cadáver na tentativa de esconder o crime.
Saade fugiu da cidade de Brarranquilla no mesmo dia do crime, 1 de janeiro de 1994, como relatou o arquiteto Martín Mestre entrevistado na TV brasileira.
As fontes oficiais confirmaram que o fugitivo vivia no Brasil com documentos falsos emitidos em 1995. Saade assumiu no Brasil novo nome, recomeçou do zero como empresário de lavandarias e constituiu família. Em 1998 foi condenado a 27 anos in absentia na Colômbia.
Em outubro de 2020, Saade detido havia oito meses — mais de 26 anos após o crime e fuga e 22 anos depois de ser fugitivo da justiça e estar sob alerta da Interpol — foi libertado.
De novo, em 2022, o Supremo do Brasil indeferiu, "pelo menos por agora", o pedido de extradição com um empate a dois votos.
Este 18.4.2023 a justiça entrou nos eixos.
Fontes: Interpol.org/Clarín/BBC.br/Globo/.... Relacionado: Brasil: STF indeferiu extradição de fugitivo colombiano Saade, homicida da noiva adolescente em 1994, 10.mai.021; Brasil é obstáculo na busca por justiça para adolescente morta pelo noivo em 1994, 23.nov.021; Brasil decidirá sobre extradição de Jaime Saade —Pai de Nancy Mestre luta há 28 anos por justiça, 30.mai.022. Fotos: A morte de Nancy dispersou a família Mestre (o pai Martín ficou em casa a lutar sozinho, a mãe mudou-se para a Espanha e o filho mais velho para os Estados Unidos). Fugitivo desde 1994, Jaime Saade (à esqª aos 29 anos e foto atual aos 59) foi descoberto em 2020 em Belo Horizonte a mais de sete mil quilómetros da Colômbia.