Se o Estado não der exemplo não tem moral para pedir sacrifícios
Três meses atrás, (em junho), o primeiro-ministro declarou situação de emergência social e económica no país. Na ocasião, o governo de Cabo Verde acionou, junto dos nossos parceiros internacionais, os mecanismos necessários para a mobilização de recursos tendo em vista dar combate à crise.
Ainda na mesma ocasião o primeiro-ministro fez um apelo às cabo-verdianas e aos cabo-verdianos para que economizassem nos consumos de eletricidade, de gasóleo e gasolina, e que fizessem um esforço de poupança individual e familiar. Mas, também, apelou no mesmo sentido à administração do Estado.
Pelos vistos, os nossos parceiros internacionais acolheram bem o pedido do governo e, ao que julgo, terão aberto as mãos a novos recursos. É que, como se sabe, manter “um exemplo de democracia em África” tem alguns custos, nada de mais para os bolsos bem recheados das chamadas democracias ocidentais.
Deduzo o que terão pensado as cabo-verdianas e os cabo-verdianos do apelo à poupança, quando não veem, por parte do primeiro-ministro e do governo um sinal nesse sentido. Como também não esquecem o que disse a segunda figura do executivo a propósito de aumentos salariais para os que menos ganham, argumentando que o País, de momento, não teria condições para tal.
O governo continua gordo e a fazer apelos à compreensão dos que menos ganham, ao mesmo tempo que se assiste às mãos abertas para quem mais tem. Ora, isto é incompreensível para a esmagadora maioria das cabo-verdianas e dos cabo-verdianos!
Reiteradamente tenho apresentado, no Parlamento de Cabo Verde, propostas para a contenção da despesa pública, esbarrando nas orelhas moucas dos poderes instalados. E parece-me que ninguém do governo e do seu entorno evidencia perceber uma coisa tão simples como esta: se o Estado não der o exemplo na contenção das despesas, não tem moral para pedir sacrifícios às cabo-verdianas e aos cabo-verdianos!
Orlando Pereira Dias
(Deputado da AN e do parlamento da CEDEAO)