A "infanticida de cinco", classificada como "mãe sem esperança", desde a primeira abordagem junto das autoridades pediu que lhe fosse ministrada a eutanásia. A lei belga autoriza essa opção a quem sofrer de doença incurável, abrangendo tanto a doença física como psicológica.
Em 2008 o tribunal de Nivelles, a cidade onde tudo aconteceu, condenou-a à prisão perpétua, sem atender às alegações da defesa de que ela não era reponsável pelos seus atos e que "o sistema a deixara sozinha" desde cedo, na "adolescência com muito sofrimento".
A tese da defesa era apoiada por uma equipa de psicólogos que explicaram aos doze jurados: "Esta mulher introvertida, depressiva e sob medicação regular desde a adolescência, esteve por muito tempo invisível e ninguém se apercebeu de que esta invisibilidade era um pedido de socorro".
"Ela foi uma das seis vítimas deste acidente que nos choca a todos", rematava a defesa liderada pelo causídico Xavier Magnée. Os jurados decidiram de outro modo.
Eutanásia. Ao fim de onze anos, foi transferida para um hospital psiquiátrico. Entretanto a sua defesa renovava o pedido de eutanásia, mas sem qualquer decisão das autoridades.
A defesa de Geneviève Lhermitte alegava que ela tinha todas as condições para receber a eutanásia prevista na legislação, para quem fazia o pedido de forma consciente e coerente com a convicção de que a vida lhe era totalmente insuportável.
Em declarações à RTL-TVI, a mãe de Geneviève e avó sobrevivente expressou: "É o fim do sofrimento da minha filha. Ela há dezasseis anos que queria morrer. Matou os filhos primeiro, porque pensou que ia salvá-los do sofrimento que era o dela". O tio materno também expressou que a sobrinha "pagou a sua pena mais de mil vezes!.
Também em declarações à RTL-TVI, o médico Michel Schaar que era muito próximo da família disse: "Compreendo a sua escolha [da eutanásia]", mas "mesmo que me deem mil explicações para o que a levou a isso, nunca perdoarei o gesto dela matar os cinco filhos. Nunca lhe perdoarei".
Descriminalização. A eutanásia na Bélgica foi despenalizada em 2002. Os registos indicam que nestes dois decénios, os hospitais aplicaram a eutanásia segundo a lei a mais de 30 mil pessoas.
Processo contra psiquiatra
Em 2010 a detida Geneviève Lhermitte processou o seu psiquiatra por "inação" perante os indícios de que ela ia cometer o infanticídio. A sua defesa alegou que o profissional, que a acompanhava "de há muito", podia ter evitado a morte das cinco crianças.
Em 2020, o processo foi extinto — no que pode tido como uma "batalha legal inglória" que pôs em xeque também o sistema de justiça da Bélgica, segundo o causídico Xavier Magnée.
Fontes: Le Soir.be/RTL-TVI/Le Figaro/BBC/