A historiadora da UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro esteve em Berlim por ocasião deste "8 de Maio", data em que a Europa celebra a rendição da Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Anita nasceu em 1936 na prisão feminina da Barninstrasse, em Berlim onde a mãe — comunista convicta, que com o marido brasileiro Luís Carlos Prestes participou na fracassada Intentona Comunista de 1935 — foi encarcerada após ser deportada do Brasil pelo regime de Getúlio Vargas.
Também comunista convicta, a historiadora diz ver com preocupação a ascensão da extrema-direita em todo o mundo. É um fenómeno que Anita explica nos seguintes termos: "Nesses momentos de crise, quando o capital [financeiro] vê que está com dificuldade de controlar a situação, aí apela para o fascismo. Foi assim nos anos 1930 e o perigo existe, está aí", afirma.
Raiz na desunião. Quanto ao Brasil, ela se diz pouco otimista e critica a falta de organização popular. "O problema é que eles ficam cada um no seu nicho e não adquirem força para mudar a situação", avalia.
Essa desunião está ligada à herança esclavagista do país, opinou. Mas acima de tudo ao "capitalismo (que) é o causador de todos esses problemas, daí a necessidade de lutar pelo poder e da unificação de todas essas lutas, que são importantes por si, mas perdem seu valor se ficarem isoladas".
Sem memória. A historiadora alertou também para a ausência de uma cultura da memória no Brasil, que "pode votar a eleger outro Bolsonaro em 2026". Exemplos disso, segundo cita, são quer a amnistia a torturadores quer o bloqueio dos militares visando a Comissão da Verdade, instaurada durante o governo de Dilma Rousseff.
Nunca punir os torturadores, assassinos
Alguém perguntou à historiadora o que pensa da proposta que em agosto foi apresentada pela ’ministra’ do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, para a Justiça do Brasil pedir perdão pela deportação de Olga Benário.
Anita reagiu com descrença, lembrando as torturas e desaparecimentos durante a ditadura militar (1964-1985). "Não sei até se já se esqueceram [do assunto no STF]", mas "acho muito pouco provável que alguém vá pedir desculpas. A tradição no Brasil é de nunca punir os torturadores e criminosos".
Fontes: DW.de/https://www.rosalux.de/