É sob o pano de fundo da persistente ameaça djihadista que aconteceu, em 25 de janeiro, a demissão do presidente burkinabê. Roch Marc Christian Kaboré foi nos últimos meses alvo constante de protestos na rua e nos quartéis: a população — com mais de dois milhões e meio de deslocados e milhares de mortes — e soldados insatisfeitos com o orçamento da Defesa acusam-no pelo insucesso no combate à ameaça djihadista.
Outro são os conflitos interétnicos e que supostamente determinaram o assassinato do presidente Sankara em 1985 — como reemerge no julgamento em curso do presidente Compaoré (link, infra).
A faísca que incendiou os ânimos veio com a proibição da manifestação prevista para o fim de semana. O "ato antidemocrático" ocorreu, na quinta-feira 20 —dia em que, ironicamente, Roch solenizou o Conselho Nacional de Orientação e Monitoramento da Reconciliação Nacional e Coesão Social.
Manifestantes saíram à rua. O poder mandou as forças da ordem e como que em resposta aos apelos por uma "révolution dos oeillets" os militares avançaram para o oitavo golpe-de-Estado na República do Burkina-Faso em meio século.
Ouviu-se que os mais ardentes pediam uma "Revolução dos cravos". Sim, a referência é ao "25 de Abril de 1974" — que causou uma grande admiração na Francofonia e, vê-se hoje, viva na memória 48 anos depois —, mas entre os que se manifestam nota-se a frustração perante o que chamam de "chefes do Burkina curvados perante a França".
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Fontes: Ivoiresoir/Reuters/AFP. Relacionado: Burkina-Faso/ Thomas Sankara: Julgamento dos presumíveis assassinos arranca hoje — Ex-PR Compaoré entre 13 acusados, 11.out.021; França-Barkhane: Nº1 do Estado Islâmico no Saara eliminado — Al-Sahraoui liderou ataques na zona das 3 fronteiras, 22.set.021;
Burkina-Faso: 100 civis mortos em ataques djihadistas sábado, 05.jun.021; Burkina-Faso: 7 soldados, 35 civis e 80 terroristas morreram, anuncia presidente Kaboré, 26.dez.019.