Numa melodia de independência, o nosso Pais Cabo Verde rompeu as correntes coloniais portuguesas em 1975, libertando as asas da nação. Contudo, enquanto a maré do tempo avança, uma questão se ergue como o vento a soprar sobre o arquipélago atlântico: Será que já encontramos a nossa própria identidade e personalidade nacional? Neste artigo, embarcamos numa jornada para questionar, explorar e dançar na penumbra da influência portuguesa que ainda se insinua sobre a nossa nação insular.
O primeiro movimento deste poema político é o espelho da Constituição cabo-verdiana na portuguesa. A Constituição, adotada em 1980 e revista outras vezes mais parece ser mais do que palavras escritas em papel, é o eco dos ventos que sopravam e que continuam a soprar sobre Portugal até os dias de hoje. Uma sinfonia constitucional que se assemelha de perto, uma harmonia que ressoa através dos corredores do poder.
Outra cena se desenrola na formação político-profissional dos líderes cabo-verdianos, uma dança nas águas político-profissional de Portugal. As sementes da política lusitana germinam em Cabo Verde, moldando líderes, estruturas de Estado e políticas públicas. Uma dança de influência que levanta questões sobre a originalidade do sistema político cabo-verdiano, questionando se este é o ritmo que o coração de Cabo Verde deveria e mereceria seguir.
No palco da cultura, uma sinfonia única é executada. Cabo Verde possui uma cultura rica, desde o folclore até a cultura acadêmica, mas, sem dúvida, a melodia portuguesa está tecida no tecido de nossa sociedade. Não apenas a língua, mas os contornos da cultura portuguesa são visíveis. Um dueto cultural que continua a encantar.
Destaque é dado aos talentos educados em solo português, como estrelas de primeira grandeza, eclipsando outras constelações acadêmicas. Este foco no ensino português é uma escolha que pode limitar a diversidade de perspetivas e inovações. A busca pela luz do conhecimento deve abraçar muitas estrelas no céu do saber.
Num palco onde o Atlântico encontra a África, Cabo Verde dança na encruzilhada da identidade. Enquanto o luar da influência portuguesa ilumina seu caminho, a busca por uma identidade genuína é uma Mazurca delicada e intrincada para se dançar.. Não é apenas romper com o passado, mas sim criar uma sinfonia própria, com notas autênticas e únicas.
O nosso Cabo Verde é uma nação de desafios, onde a busca pela nossa identidade e personalidade nacionais é uma dança sob o olhar atento do Atlântico. A influência portuguesa, uma parte de nossa história, não deve ser uma sombra, mas um ponto de partida para um batuco e atalaia baixo mais genuíno e grandioso. A busca pela identidade é uma jornada, uma canção que ressoa no coração de nossa cultura, na diversidade de nossa gente e na história que está sendo escrita. Que Cabo Verde continue a dançar sob o seu próprio lume do seu Vulcão, encontrando a sua própria identidade e orgulho nacional na paisagem vibrante do século XXI.
EUA, setembro 2023
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* Escritor e poeta