“Hoje vemos várias pessoas em altos cargos, até dirigentes de instituições públicas com alguma dificuldade de articulação. Não é só o português ou a língua que é mal formulada. Tem a ver com o pensamento, tem a ver com ideias, tem a ver com a qualidade de dicção e a qualidade semântica daquilo que é expressado por essas pessoas e isso é apenas um exemplo", afirmou Abraão Vicente, na Praia, à margem de uma cerimónia para assinalar o final da primeira edição do concurso nacional de leitura.
Para o ministro, este exemplo resulta do facto de existir carência de livros ou de leitura, que não são incutidos em todo o processo de formação escolar, considerando ser "fundamental repescar" este setor para o enriquecimento da comunicação pública, não só dos dirigentes nacionais, mas também dos líderes empresariais do setor privado, para uma melhor qualidade do pensamento.
"A leitura, basicamente, acaba por fornecer à sociedade civil outros instrumentos de leitura também nos tempos contemporâneos que passam. Portanto, este evento é o culminar, é quase uma finalíssima nacional de um projeto que envolveu mais de 5.000 alunos inscritos. Portanto, cai por terra, de uma forma estrondosa, a ideia e o mito de que a nova geração não quer ler", afirmou.
Abraão Vicente insistiu que a nova geração precisa de uma "sistemática de leitura" e que esse é o objetivo principal do projeto Plano Nacional de Leitura criado pelo Ministério da Cultura, dirigido e coordenado pela Biblioteca Nacional e pela Direção Nacional da Educação.
"Este evento é o culminar de um projeto muito maior, que é o Plano Nacional de Leitura, que visa ter a leitura permanentemente na agenda das escolas, das famílias, das comunidades e introduzir a leitura como algo fundamental para a formação total do cidadão", realçou o ministro, que também tutela a pasta das Indústrias Criativas.
O Concurso Nacional de Leitura foi lançado em janeiro e contou com mais de 5.000 alunos inscritos de todo o país e 211 escolas nesta primeira edição.
Dirigido aos alunos do ensino básico (1.° e 2.° ciclos) e do ensino secundário, com participação livre, este concurso tem a finalidade de promover o desenvolvimento de competências de leitura, escrita, comunicação e melhorar também o domínio da língua portuguesa.
São 15 os estudantes selecionados na primeira edição do concurso, cuja final está a acontecer no Auditório Nacional, na Praia.
A presidente da Biblioteca Nacional de Cabo Verde e coordenadora geral do Plano de Leitura, Matilde Santos, considerou que o evento é de "extrema importância e de ganhos de dinâmicas interessantes" para o país.
"Num momento em que há muitas queixas de que os jovens ou gerações mais novas não têm esse gosto pela leitura, eu penso que pelo menos este concurso vem deitar um pouco essa regra para o chão, porque se calhar não corresponde bem à realidade que nós estamos a viver", afirmou.
Matilde Santos manifestou a necessidade de fazer um estudo, juntamente com universidades, para se ter uma noção exata sobre a questão da literacia em Cabo Verde.
"E nós acreditamos que através desses jovens nós teremos, a nível da literacia, uma larga melhoria aqui em Cabo Verde. Estou em crer mesmo que com um concurso com esta dimensão, de certeza, no futuro nós colheremos bons frutos", terminou a presidente.
A Semana com Lusa