“Temos podido, na medida do possível, barrar a entrada. Mas há limitações e ainda precisamos de reforçar com meios”, disse Joana Rosa, após a abertura, na Praia, da conferência “O combate à criminalidade organizada transnacional: Os desafios das operações marítimas e portuárias”.
Durante a conferência, no âmbito das comemorações do 30.º aniversário da Polícia Judiciária de Cabo Verde, os dados apresentados pelo Escritório contra Drogas e Crime das Nações Unidas (UNODC, na sigla em inglês) demonstraram o aumento da passagem de droga, sobretudo cocaína, pelas rotas transnacionais envolvendo o Brasil e, em África, os países lusófonos, casos da Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, além de Cabo Verde.
Em apenas três megaoperações coordenadas pela Polícia Judiciária em águas fiscalizadas por Cabo Verde, as autoridades cabo-verdianas apreenderam, desde 2019, mais de 17 toneladas de cocaína, em dois barcos de pesca brasileiros e um cargueiro com bandeira do Panamá, que levaram ainda à condenação, nos vários processos e em todos os casos a mais de 10 anos de prisão, 12 brasileiros, dois montenegrinos e 11 russos.
Além disso, em outubro passado, um italiano de 63 anos e um francês de 26 anos foram detidos, em flagrante delito, no âmbito de uma operação realizada numa embarcação de bandeira francesa na marina do Mindelo, em São Vicente, tendo a Polícia Judiciária cabo-verdiana apreendido no interior 227 quilogramas de cocaína.
“O trabalho que o país tem feito do ponto de vista daquilo que é a vigia dos nossos mares, do trabalho que nós temos estado a fazer em cooperação com Portugal, Espanha, Estados Unidos. Isso demonstra que o país tem feito um esforço, mas o esforço ainda se mostra insuficiente, insuficiente por causa de meios. Nós precisamos de mais meios navais, precisamos de acompanhar a rota da criminalidade e trabalhar a prevenção”, destacou a ministra da Justiça.
“Há que haver um esforço conjunto não só de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Senegal, mas também da Europa, dos Estados Unidos, para que se possa combater o tráfico de droga. Há que reconhecer o esforço do país, as várias apreensões ao longo desses anos, o trabalho que se tem feito nos nossos portos, aeroportos”, advogou.
Segundo Joana Rosa, “tudo isso é fruto de um trabalho que a Polícia Judiciária tem vindo a desenvolver, com as Forças Armadas, com a Polícia Marítima”.
“E isso, como eu disse inicialmente, requer meios, requer estratégia”, acrescentou.
“Vamos poder também, com o apoio e assistência técnica da UNODC, ter equipamentos de deteção de droga nas embarcações, portanto, saber e poder acompanhar da melhor forma o tráfico internacional de droga nos nossos mares e a nível do país”, anunciou.
A ministra recordou “o aumento do tráfico de drogas” tendo em conta os estudos internacionais já publicados, “mas também a sofisticação da criminalidade com o desenvolvimento da globalização, o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação”.
“Isso tudo traz desafios para a Polícia Judiciária e para os países vulneráveis e, portanto, medidas de políticas, planos de ação que visam o combate, a prevenção, também a repressão, têm vindo a ser adotadas e vamos continuar a intensificar esta luta”, apontou.
“O nosso objetivo é impedir a entrada de drogas em Cabo Verde e impedir a passagem de drogas para a Europa e para os Estados Unidos”, garantiu, sublinhando que a prioridade tem sido “minimizar a entrada” da droga, com um “combate dentro das possibilidades do país, dos meios que o país tem à sua disposição”.
A Semana com Lusa