A recente crise no setor da saúde, apontada em relatórios desde 2018, agudizou-se durante a pandemia. Os deputados conservadores, perante o alerta dado por um relatório do ano anterior, tinham lançado em junho de 2020 um estudo sobre o estado do sistema.
Um ano depois, as conclusões apontavam que, mais que a pandemia, tinha sido a falta de planeamento o principal fator da crise no setor da saúde. "Como é que se governa, sem saber quantos médicos, enfermeiros, serventes e outros cuidadores vão ser necessários a curto, médio e longo prazo", interrogavam as vozes críticas informadas.
Burn out. Relatórios parciais como o das associações médicas britâncias (BMJ, anteriores a janeiro de 2020, tinham apontado o burn out ("extremo cansa5ço") de médicos. Um em dada três médicos, a maioria deles a atender nos bancos de urgência, dizia ter atingido o seu limite.
Como está a situação por cá? Sem vozes audíveis, pode-se inferir de desabafos por profissionais que se queixam de "extremo cansaço". Um grande número de pacientes atribuído a cada um. Deslocações para atender populações dispersas ou grupos organizados.
"Hoje atendi trinta pacientes. Depois tive de me deslocar a (outra localidade) e atendi mais doze". Neste caso, é um profissional ao serviço exclusivo da sua instituição pública a desabafar sobre "o trabalho que cada vez mais está mais pesado".
"Anjos de Boris"
Esta expressão ressurgiu na crítica ao tratamento que o governo de Boris Johnson dá ao NHS. É uma referência à situação vivida em 2020, quando a enfermeira neozelandesa Jenny McGee (foto) foi como o seu colega português Luís Pitarma alvo de público reconhecimento do primeiro-ministro "grato à Jenny e ao Luís que estiveram [com ele] 48 horas seguidas e [lhe] salvaram a vida".
Em maio de 2021 a neozelandesa — que completou dez anos a trabalhar no hospital londrino onde Boris Johnson esteve internado em abril de 2020 — bateu com a porta.
Oportunidade de ouro para o presidente do partido trabalhista, Sir Keir Starmer, pôr em ação a nova estratégia de afrontamento do executivo "tory".
Um ano depois, o que fez o governo-sombra cujo líder prometeu fazer o que "é minha responsabilidade: consertar o que está mal"?
Neste 2022 da guerra, ninguém do "quarto poder" faz a pergunta. Silêncio da imprensa, distante pois da tradicional marcação cerrada sobre o poder legislativo que carateriza a sociedade britânica.
Fontes: BBC/Guardian/Telegraph/