TRAPALHADAS...
Com tantos "especialistas" nestas coisas a verberar palpites no Facebook, hesitei tomar posição sobre o assunto. De todo o modo, penso que vários anos de jornalismo judiciário me dão alguma legitimidade para dizer algumas palavras.
Este caso está marcado por várias sequências de trapalhadas. Primeiro, anunciaram o nome de um desgraçado qualquer imputando-lhe a suspeita de ser o homicida, publicaram até à exaustão a cara do cidadão, tramaram-lhe a vida e, por fim, percebeu-se que o homem não tinha nada a ver com o assunto.
Depois, ergueram um muro de silêncio, alimentando toda uma série de boatos, e, por fim, vieram dizer aquilo que qualquer jornalista bem informado já sabia: o tiro partiu da arma de fogo de um agente policial. Escarrapacharam o nome do homem em tudo o que era sítio e, agora, este senhor vem dizer que o tiro foi acidental...
Num primeiro momento, após o homicídio, foi construída, por agentes policiais, uma narrativa falaciosa para ocultar (proteger, mesmo) o autor do homicídio, permitindo-se, até, lançar suspeitas sobre um cidadão que sabiam estar inocente e obstruindo a acção da Justiça, o que é de uma tal gravidade que, só por si, deveria levar os agentes à expulsão da corporação. No entanto, a direcção da PN fechou-se em copas, tornando-se cúmplice da prática de vários crimes.
Agora, vem este senhor dizer que o tiro foi um acidente, o que, só por si, nos suscita várias interrogações:
1. Se o tiro foi acidental, por qual razão não esclareceram logo no início?
2. Se o tiro foi acidental, por qual razão o seu autor andava, aparentemente, a monte?
3. Se o tiro foi acidental, por qual razão foi aplicada a mais grave medida de coacção, a prisão preventiva?
Como se percebe, são as próprias autoridades (incluindo detentores dos mais elevados cargos) a construir narrativas de mentira, a propagar boatos e a alimentar a intranquilidade que parece ter tomado a sociedade a propósito da actuação, das vivências e das práticas ilegítimas e criminosas de parte dos agentes da Polícia Nacional, com a cumplicidade dos seus mais altos responsáveis.
É caso para dizer: "acudam, mas (por favor) não chamem a polícia!"
(António Alte Pinho, post publicado na sua página de facebook)