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Polémica com a entrevista de Paulino Vieira sobre sucesso de Cesária Évora: César Monteiro responde « post leviano» de Agostinho Santos e rebate que a música de Cabo Verde «não está condenada ao extermínio» 13 Mar�o 2023

Num post que acaba de publicar na sua página de Facebook, o sociólogo e investigador César Monteiro reage ao que apelidou « spot leviano» de Agostinho Santos, a propósito da entrevista que concedeu à Rádio Nacional em que analisou as entrevistas que o músico Paulino Vieira deu à Lusa sobre a internacionalização da morna com o sucesso da Cesária Évora. «Longe de pretender manchar Paulino Vieira, tal como Agostinho Santos me acusa no seu leviano ´post´, nutro respeito e admiração por um dos maiores músicos de Cabo Verde de todos os tempos, se bem que eu não alinhe nem pactue, de forma nenhuma, com determinadas afirmações públicas do Maestro extremamente contundentes, às vezes retrógradas, e polémicas, que tem vindo a fazer nos últimos anos sobre a música cabo-verdiana, em geral, e, particularmente, sobre conflitos mal resolvidos, que se arrastam desde 1995, hoje numa espécie de ajuste de contas entre dois grandes protagonistas da internacionalização da nossa música». Contrariando o mestre Paulino Vieira, Monteiro advogada que a música de Cabo Verde «não está condenada» ao extermínio. «Na minha perspetiva, a música (cabo-veridana) não está condenada ao extermínio como o próprio Paulino erradamente afirma, em decorrência do ´sucesso da Cesária´, que o próprio compositor e multinstrumentista tem tido dificuldades em digerir publicamente, por paradoxo que pareça. (Veja-se entrevista de Paulino Vieira concedida a Lusa, Lisboa, fevereiro de 2023). Permita-me discordar. Se assim for, é preciso que o Mestre o explique, de forma clara, pedagógica e científica, à sociedade cabo-verdiana para que apreenda a dimensão do fenómeno e tenha a consciência do perigo», defende César Monteiro, no post que publicamos a seguir.

Polémica com a entrevista de Paulino Vieira sobre sucesso de Cesária Évora: César Monteiro responde « post leviano» de Agostinho Santos e rebate que a música de Cabo Verde «não está condenada ao extermínio»

César Monteiro responde a Agostinho Santos, em defesa do bom nome e da música cabo-verdiana

1. Agostinho Santos, que não conheço de lado nehum, tomou a liberdade de me insultar num "post", que ele próprio colocou e fez circular ontem, na sua página do Facebook, em letras garrafais, intitulado "CESAR MONTEIRO MATOU O DEBATE", a propósito da minha recente conversa com o jornalista da RCV Carlos Santos, sobre a polémica instalada à volta do Mestre Paulino Vieira.

2. Não fosse a circunstância de o texto leviano de Agostinho Santos, que escreveu um livrinho biográfico sobre o consagrado compositor e multinstrumentista Paulino Vieira, pretender atingir o meu bom nome, a minha honra e a minha idoneidade, teria eu, pura e simplesmente, aprisionado na teia do silêncio como mera estratégia, à semelhança daquilo que tenho feito noutras ocasiões quando, precisamente, o confronto direto é com pessoas de idoneidade duvidosa.

3. Ser biógrafo de Paulino Vieira ou de quem quer que seja, Agostinho Santos, não lhe confere, à partida, o direito de impedir que outros opinem, ou expressem o seu pensamento, neste ou naquele sentido, de forma livre, responsável e absolutamente democrática sobre factos ou declarações dos quais possam discordar ou não como se a sociedade cabo-verdiana hodierna, no limiar do século XXI, onde todos nós vivemos com dignidade, se pudesse considerar refém das derivas, casmurrices, manias, atitudes etnocêntricas, arrogância e autoritarismo de protagonistas do campo musical cabo-verdiano, ou de outra campo artístico qualquer.

4. Ao longo do meu vasto e reconhecido percurso académico e profissional como sociólogo, investigador, especialista da música e, ainda, nos últimos anos, Embaixador de carreira aposentado, com várias obras já publicadas, mormente nas àreas das migrações e da música, aprendi a pensar com a minha própria cabeça, andar com os meus próprios pés e, sobretudo recusar-me à subserviência, de forma frontal, com algum custo, é certo.

5. Longe de pretender "manchar Paulino Vieira", tal como Agostinho Santos me acusa no seu leviano "post", nutro respeito e admiração por um dos maiores músicos de Cabo Verde de todos os tempos, se bem que eu não alinhe nem pactue, de forma nenhuma, com determindas afirmações públicas do Maestro extremamente contundentes, às vezes retrógradas, e polémicas, que tem vindo a fazer nos últimos anos sobre a música cabo-verdiana, em geral, e, particularmente, sobre conflitos mal resolvidos, que se arrastam desde 1995, hoje numa espécie de ajuste de contas entre dois grandes protagonistas da internacionalização da nossa música.

6. Na minha perspetiva, a música, não está condenada ao extermínio como o próprio Paulino erradamente afirma, em decorrência do "sucesso da Cesária", que o próprio compositor e multinstrumentista tem tido dificuldades em digerir publicamente, por paradoxo que pareça. (Veja-se entrevista de Paulino Vieira concedida a Lusa, Lisboa, fevereiro de 2023). Permita-me discordar. Se assim for, é preciso que o Mestre o explique, de forma clara, pedagógica e científica, à sociedade cabo-verdiana para que apreenda a dimensão do fenómeno e tenha a consciência do perigo.

7. Salvo o devido respeito por opinião contrária, algumas afirmações de Paulino Vieira, pela ausência de alguma fundamentação consistente e, às vezes, por algum excesso carga emotiva na sua formulação, não resistem à comprovação empírica da historiografia, nem sequer acompanham a evolução da própria discografia cabo-verdiana, de resto hoje muito mais diversificada e rica do que há vinte anos, produto da globalização cultural e da internacionalização da música cabo-verdiana. Não tenho que concordar ou discordar, cada um de nós tem o seu próprio perfil, a perceção diferenciada da música cabo-verdiana, olhares diferenciados e a liberdade de se dizer ou não as coisas. Não vivemos numa selva, vivemos, sim, num Estado democrático onde o exercício do contraditório é fundamental.

8. Nos recentes comentários feitos por mim no decorrer da conversa na RCV, limitei-me, no escasso tempo de antena de que dispunha, a pedido do próprio jornalista, a analisar com factos e argumentos de natureza sociológica, o conteúdo dos aspetos essenciais das duas entrevistas de Paulino Vieira oportunamente divulgadas, através das redes sociais. Fi-lo, a partir do meu olhar sociológico e munido de ferramentas teorico-concetuais, com isenção, correção, de forma desapaixonada e numa perspetiva construtiva, holística e desmistificadora. Sendo assim, Agostinho Santos, deixe que Paulino Vieira, que desencadeou a polémica, se defenda como puder, querendo ele, não faça fretes, invocando o seu estatuto de biógrafo do músico. Fica-lhe mal.

9. O livro que apresentei em Roterdão no ano passado e que ridicularizou no seu post, não se reduz apenas a "Manel d’Novas" como escreveu, mas é o primeiro volume de dois sobre a música e a sociedade cabo-verdiana, uma obra de 793 páginas já esgotada no mercado. Não fale de coisas que não entende, ou não conhece, Agostinho Santos, informe-se convenientemente, não escreva à toa, não diga disparates, mostre alguma competência e elevação, não se arme em puxa-saco e bobo da festa.

Praia, 12 de março de 2023

César Monteiro*

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*Doutor em Sociologia, investigador, especialista em música e Embaixador de carreira aposentado

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