As “Memórias” constituem o testemunho, em primeira pessoa, do combatente de Liberdade da Pátria, Inacio Soares de Carvalho, que consagrou toda sua vida ao desígnio de ver livre suas duas pátrias - a Guiné e Cabo Verde.
De acordo com informações avançadas pela organização, o 1º e o 3º capítulos da obra constituem recolhas e pesquisas efectuadas pela família, junto de determinadas fontes, sendo que algumas já não pertencem o mundo dos vivos, e das próprias vivências familiares que, querendo ou não, são partes integrantes das Memórias do autor.
“No processo de recolha de depoimentos constantes no 4° capítulo, constata-se que os mais velhos companheiros de luta de Inácio Carvalho, na clandestinidade, já não se encontram vivos. De salientar ainda e com grande mágoa que a História quase que deles se esqueceu. Por isso, os entrevistados foram os que, na altura dos acontecimentos narrados, eram todos jovens, nomeadamente António Cabral, Brigido de Barros, Carlos (Carlitos) Barros, Constantino Costa, Mário Soares, Noberto (Kote) de Carvalho, Wladimir Brito, entre outros”, refere a organização em comunicado.
Percurso do autor
Tendo nascido na cidade da Praia, Inácio, ainda criança, foi levado pelos pais para a Guiné, onde viveu quase toda sua vida. Engajou-se na causa da luta pela independência nacional desde os anos cinquenta, tendo passado vários anos nas prisões da Guiné e no Campo de Concentração do Tarrafal.
Inácio Soares de Carvalho foi dos militantes da primeira hora da gesta libertadora dos povos da Guiné e Cabo Verde. Milita no MLGC em 1957, Movimento que se transforma, segundo o próprio autor, nos inícios dos anos sessenta no PAIGC. Conta que foi mobilizado, em 1956, pelo amigo e compadre Abílio Duarte, seu colega de trabalho no antigo Banco Nacional Ultramarino, na Guiné-Portuguesa.
É preso pela primeira vez em 1962. Conheceu todas as prisões do regime salazarista na Guiné-Portuguesa, designadamente as de Bissau, Mansoa e Ilha das Galinhas.
Em 1962, é deportado para a Colónia Penal do Tarrafal em 1965, regressa a Guiné como preso, com mais cinco companheiros, para a Ilha das Galinhas. Em 1967, é liberto pela primeira vez e em 1972, é de novo preso e encarcerado na Segunda Esquadra de Bissau.
Porém, 3 meses depois é liberto. Em 1973, é novamente, preso para conhecer a liberdade definitiva com o Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, em Portugal. Nos finais de 70, regressa a sua terra natal, Cabo Verde e afasta-se praticamente da vida política ativa.
Segundo a nota da editora da obra, após incessantes insistências dos filhos, Inácio resolve escrever suas “Memorias”, tendo-as dado por concluídas em 1992. Nelas, o autor narra factos novos, desconhecidos da maioria dos militantes, pois, “infelizmente”, poucos foram os combatentes da clandestinidade, sobretudo na Guiné, que deixaram escritos sobre essa vertente da luta protagonizada pelo PAIGC.
“A vida, em si, de Inácio, do nascimento à morte, é também, como se poderá constatar, lendo esta obra, o espelho da história dos povos da Guiné e de Cabo Verde. O autor morre em Dezembro de 1994, sem ver suas “Memórias” serem do conhecimento daqueles para quem deu grande parte de sua vida”.
No intuito de enriquecer a obra e melhor compreender a personalidade do homem e do político que Inácio foi, os filhos, segundo as mesmas fontes, decidiram publicar a obra introduzindo alguns capítulos. Assim, o livro está estruturado com uma Nota Introdutória, onde se explica toda a história da obra; um Prefácio; os agradecimentos; um 1° capítulo, designado de Pré-luta; o 2°, que constitui as “Memórias” propriamente ditas do autor; um 3°, designado de Pós-luta; um 4° capítulo denominado Depoimentos, onde são apresentados testemunhos de companheiros de luta de Inácio, ainda vivos e contactáveis, e de pessoas que, de uma forma ou de outra, lidaram com o autor na sua vida normal e nas “coisas da luta”, refere a nota referida.