Foi durante a visita ao tradicional Bazar Diplomático, que se realiza todos os anos no início de novembro no Centro de Congressos de Lisboa, ex-FIL na Junqueira, que Marcelo Rebelo de Sousa disse ao embaixador Nabil Abuznaid que os /alguns palestinianos "não deviam ter começado" esta guerra com Israel e aconselhou-os a serem moderados e pacíficos. "Desta vez foi alguém do vosso lado que começou. Não deviam", exprimiu o chefe de Estado ao diplomata da Palestina.
Esta sexta-feira, ao passar pela banca da Palestina, Marcelo Rebelo de Sousa cumprimentou Nabil Abuznaid, que agradeceu a visita do chefe de Estado português neste "tempo muito difícil".
O presidente português concordou que "é um período difícil", acrescentando: "Mas, sabe, penso que dependerá muito de vós. Têm de ser um exemplo de moderação. "Têm de ser moderados, de outro modo, perdem a vossa razão", reforçou.
O chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal observou que "a reação foi brutal" por parte das Forças Armadas israelita e defendeu que "a ocupação tem de acabar".
"Isso é outra coisa. O facto de não haver ainda os dois Estados não significa que vocês possam atacar pessoas inocentes do modo como fizeram —alguns de vocês", respondeu Marcelo Rebelo de Sousa, ressalvando que não confunde "o ataque terrorista com o desejo de paz do povo palestiniano como um todo".
Nabil Abuznaid apelou ao fim da guerra: "Temos de parar esta guerra agora, mais pessoas estão a morrer".
Marcelo Rebelo de Sousa aconselhou os palestinianos a terem "calma e prudência", a serem "cautelosos, inteligentes e pacíficos", argumentando que, "de outro modo, torna-se mau para toda a gente" e que "o radicalismo cria um clima de radicalismo".
"E desta vez o radicalismo começou por parte de alguns palestinianos, claro, um grupo", prosseguiu o Presidente da República.
O chefe da missão diplomática da Palestina objetou que "isso não serve de desculpa para a reação brutal" de Israel na Faixa de Gaza e referiu que "dez mil pessoas morreram".
"Sim, eu sei que culpam Israel por isso. Mas desta vez foi alguém do vosso lado que começou. Não deviam", replicou o presidente da República.
Quando Nabil Abuznaid invocou "a ocupação de 56 anos", Marcelo Rebelo de Sousa respondeu da mesma forma: "Eu sei, mas não deviam ter começado".
Injusto
No fim dessa conversa, mantida na presença dos jornalistas, Abuznaid manifestou-se "desapontado" com as palavras do chefe de Estado de Portugal.
"Se queremos ser justos, temos de condenar a violência dos dois lados, pelo menos, e de condenar a ocupação. Essa é a raiz do problema. Se queremos ser justos. E o presidente repetiu cinco vezes para a imprensa aqui o ataque do dia 7, mas não mencionou o povo de Gaza. Isto é injusto", expressou o embaixador da Palestina em Lisboa.
Não vai haver vencedores nesta guerra
N a quarta-feira, em declarações à Rádio Renascença, Nabil Abuznaid referira que "a abertura da fronteira é um bom começo para se conseguir salvar pessoas".
"Estou feliz por ver algumas pessoas, que precisam de tratamento médico, a conseguirem cruzar a fronteira com o Egipto, bem como pessoas de várias nacionalidades. É uma medida que já vem atrasada, mas é uma boa medida. Estou certo de que mais pessoas vão conseguir sair hoje, pelo menos quatrocentas", acrescentou.
O último balanço indica que, pelo menos, 76 palestinianos feridos e trezentas e vinte pessoas estrangeiras ou com dupla nacionalidade tinham já conseguido sair da Faixa de Gaza pela passagem de Rafah.
O embaixador da Palestina em Portugal lamentando ainda o bombardeamento ao campo de refugiados de Jabalia, expressou que ninguém vai sair vencedor da guerra enquanto continuarem a morrer civis.
"Não me parece que vá haver um cessar-fogo em breve porque as forças israelitas precisam de uma vitória. Mas como vejo este número grande de pessoas inocentes a morrerem, passo a achar que não vai haver vencedores nesta guerra", rematou.