Paulo Anacleto Sequeira Delgado, 55 anos, natural da ilha de São Nicolau, residente em São Vicente, começou a desenvolver o interesse pela área da construção naval aos 14 anos de idade na sua ilha natal. Segundo disse, trata-se de um talento herdado do avô que também “dominava” a área.
Ao longo dos anos, avançou à Inforpress, foi aperfeiçoando suas técnicas e acompanhando a evolução da tecnologia. Actualmente fabrica botes e barcos mediante os projectos que a ele chegam, alegando ter capacidade para construir embarcações de até 30 metros, com os recursos de Cabo Verde.
Durante a conversa com a Inforpress, Paulo Delgado explicou como iniciou todo o processo de desenvolvimento do navio Flor d´Oliveira de 21,37 metros de comprimento, 5,40 de largura e 13,70 de altura, revestido de fibra, fabricado na ilha de São Vicente para servir a comunidade piscatória de São Pedro, tendo realizado sua viagem inaugural em 21 de Maio.
Para sua construção, referiu, teve de deslocar-se à ilha de Santiago em busca de matérias primas, nomeadamente troncos de árvores que precisava para desenhar o perfil da embarcação.
Entretanto, informou que esta etapa “não foi fácil”, mas que o resultado do produto final “valeu a pena”, uma vez que, sustentou, “nunca havia sido feito igual no País” e o navio ficou “um espetáculo”.
“Dificuldade em Cabo Verde tem que ter, quando não é de um lado, é de outro, sou a primeira dificuldade, segundo tem que ver com financiamentos, e terceiro são materiais que por vezes não se encontram no mercado”, ressalvou Delgado, augurando “saúde e sucesso” ao proprietário Celestino Oliveira e sua família.
Fazendo referência aos desafios do sector, Paulo Delgado identificou que o “maior desafio” da construção naval em Cabo Verde consiste na criação de uma base, uma área específica preparada para as construções, sendo que, ressalvou, o País tem capacidade para desenvolver ainda mais este sector visto que está dotado de engenheiros, construtores e técnicos.
“Neste momento estou na Cidade da Praia a trabalhar numa embarcação num espaço desamparado e sem segurança, mas sigo acreditando e desenvolvendo o meu trabalho”, explicitou.
Delgado advogou ainda que é um sector que carece de “mais foco e investimentos” por parte do Governo, assim como formação dos jovens na área, contribuindo assim para o desenvolvimento da área, sendo que o sector do mar é um dos que “mais emprega” no País.
“Em Cabo Verde, sabem que os nossos pontos fortes são mar e agricultura, e nem estão a investir na agricultura, mas o sector do mar é forte (…)”, sublinhou.
Paulo Delgado frisou ainda que, neste momento, trabalha com uma equipa constituída por três elementos, isto porque, justificou, a falta de recursos financeiros implica na ampliação da equipa, e com um grupo “maior” seria possível dar resposta à demanda que tem sido muita. A Semana com Inforpress