A: Mãe-Coragem, conheci muitas e também as dos antípodas que são a exceção requerida para dar valor à mãi querida, mama mia, mater nostra, nos-manhe, mamá di meu.
B: Então?! A filosofar a esta hora?
A: É pela Eunice que entrou no meu círculo de modo excecional num verão de ’86 no D. Maria.
B: Ouvi há pouco. Dizem que era a maior atriz do teatro em Portugal! Hipérboles da morte n’gabadu".
A: Olha que não, que ela bem merece. Vê o currículo dela: completou oitenta anos no teatro em setembro...
B: É obra! Falaram também nos seis filhos, de três casamentos, o que também é obra.
A: No palco do dona Maria, vejo-a a puxar a carroça. A Mãe-Coragem. Penso naquela mãe que criou seis filhos e me diz “Uma mãe é para dez filhos, mas quantas vezes nem um é para a mãe”.
C: Eu tive sorte. Criei seis meus, seis doutras mães e tive uma, não do meu sangue, que cuida de mim.
B: Está no clube das corajosas, ou como uma amiga, L. V., dizia “chocada com esta chocadeira”.
A: Então B, o que é C para ti?
C: Prefiro dizer … sou a prova de que a criação é mais que o sangue!
A: A Eunice Muñoz mãe de seis filhos teve sempre não os filhos mas uma das netas ao pé de si. Moraram na mesma casa até ao fim.
B: Então os filhos estão autorizados a ser “o corvo” que vai e não dá retorno?
C: Não sei. Só sei que não é para si que uma mãe cria filhos. Cria-os para os lançar no mundo. Cada um dos meus, uns só gerados e todos bem criados, tomou o seu rumo. Quando precisei, uma voltou — por mim.
A: C, a senhora é o contrário da Mãe-Coragem que queria os filhos junto de si e se desespera quando eles se alistam nessa guerra da Alemanha de novecentos. Ela grita-lhes "Querem ir para longe da mãe, seus diabos, e meter-se na guerra, como cordeiros na boca do lobo... Oh, mãe desventurada, que pariu com tanta dor: e o filho vai morrer na flor da idade". E morrem!