A meteórica ascensão desta "Steve Jobs no feminino" — que em 2014, aos 30 anos, é avaliada em nove ’biliões’ de dólares e se torna a primeira bilionária da biotecnologia, com entrada no ’Board Members’ da Harvard— só se compara à sua fulminante queda em 2016.
Em 2003, aos 19 anos, Elizabeth Holmes funda a empresa biotecnológica Theranos que oferecia "serviços que estão a revolucionar os testes de sangue" para "detetar desde o colesterol ao cancro".
O "segredo alma do negócio" envolveu os primeiros anos da atividade, que pela sua natureza — questões de sangue, confidencialidade do historial clínico — combinava bem com a discrição que os financiadores preferem.
Tudo mudou com a investigação realizada por um jornalista do Wall Street Journal, John Carreyrou, a partir de uma dica anónima. Milhares de pessoas tinham sido defraudadas com os serviços online de testes de sangue.
Em 2014 Elizabeth Holmes valia nove milhões e a Forbes pô-la no topo das bilionárias. Mas na reavaliação em 2015 foi a própria Forbes a concluir que a bilionária da edição anterior, contas feitas e pagas as tranches dos investidores, valia afinal… menos que zero, devido ao montante elevado de débitos que ascendiam aos 400 milhões de dólares.
Em 2018, a empreendedora é acusada de fraude, num montante que ascende a ’biliões’ de dólares (milhares de milhões de contos), segundo a PGR de San Francisco, Califórnia.
Formação em computação e aulas de mandarim, abandono e empreendedorismo
Os anos do liceu são marcados pelo interesse em programação de computadores. Começou a estudar mandarim, com os pais a investirem em aulas individuais em casa. O investimento compensou: ainda aluna de liceu, Elizabeth vende patentes da área da biotecnologia a empresas e universidades chinesas.
O percurso académico de Elizabeth Holmes regista, só, a frequência do 1º ano de Engenharia Química na universidade de Stanford. Mas abriu-lhe portas para estágios na área, tanto no país como em Singapura em 2003. A experiência serviu-lhe para criar a sua primeira patente de testes de sangue.
O sucesso fê-la desistir do curso para criar a empresa Real-Time Cures que pouco depois renomeou Theranos, juntando "terapia" e "diagnóstico".
Influentes abrem portas para investidores
Holmes entrou no círculo de personalidades como Henry Kissinger, Hillary Clinton, George Shultz, ou Betsy DeVos. A sua lista de pessoas influentes ajudou "a jovem prodígio" a atrair investidores.
O secretismo do negócio durou mais de dez anos, aparentemente o tempo da sua ligação sentimental, de 2003 a 2016, com o empresário hindu Ramesh ’Sunny’ Balwani. A relação do casal foi mantida secreta "para não interferir com a percepção dos investidores", disse em tribunal o imigrante de ascendência indiana nascido no Paquistão. Sunny aos 40 anos divorciou-se da esposa japonesa para casar com a jovem americana de 19 anos.
O secretismo envolvia também os investidores da Theranos: capitalistas das tecnológicas como Tim Draper, o magnata dos media Rupert Murdoch, a futura ministra da educação, Betsy De Vos, figuras da política e dos negócios.
Noivo dá-lhe anel sem valor comercial
O anel de curso dele, William Evans, de 25 anos, selou o compromisso. Motivo? Todos os bens da bilionária instantânea foram confiscados enquanto ela aguarda julgamento. Espera-se assim, segundo o tribunal, ressarcir os lesados, "que se contam aos milhares".
Por isso, segundo o jornalista Carreyrou, o pedido de casamento, em 2019, não foi feito com o tradicional anel de diamantes — com um valor potencial de um milhão de dólares, de acordo com o estatuto do noivo, que é herdeiro dum império hoteleiro, o Evans Hotels Group sediado na Califórnia.
Fontes: WSJ/Bloomberg. Fotos (Getty): A biotecnológica Theranos não resistiu ao escândalo da fraude e extinguiu-se. William Evans, o marido desde 2019. Ramesh ’Sunny’ Balwani e Elizabeth formaram um casal de 2003 a 2016. Com Clinton: os contactos da jovem prodígio incluíam os pesos-pesados da política e negócios.