Orlando Dias acusou que o MpD e o Estado estão ao serviço de Ulisses Carreia e Silva, que utiliza recursos públicos na sua campanha para as diretas deste domingo.
«Desde o início – e ainda na fase de pré-campanha – que é evidentíssima a utilização de recursos do Partido e do Estado ao serviço da candidatura de Ulisses. O nosso opositor interno nunca suspendeu a sua atividade enquanto Presidente do MpD, antes pelo contrário, sempre utilizou das suas prerrogativas de líder para sustentar a sua campanha interna», criticou
«Ademais, é público e notório que a Secretária-geral do Partido funciona como uma espécie de comissão executiva da candidatura, com o secretário-geral – o que denunciamos em devido tempo – a comportar-se como diretor de campanha de Ulisses. Mais, salvo uma ou outra exceção, as comissões políticas concelhias são extensões da candidatura. É o partido único por outros meios e noutro tempo», acrescentou
Para Orando Dias, ao nível da utilização de recursos públicos, é por demais evidente que isso é um facto: ministros envolvidos diretamente na campanha, fazendo-se transportar em viaturas oficiais, com combustível pago pelo Estado, e utilizando condutores e outros servidores públicos como suporte logístico da candidatura.
Realçou o próprio candidato utilizando a sua viatura oficial para ações de campanha da candidatura e um recrudescer de apoios sociais, não por mero acaso coincidentes com a campanha em curso. Denunciou ainda a utilização de viaturas e meios das autarquias locais, que vêm sendo colocados ao serviço da campanha em diversos municípios do país.
Advertiu que, num contexto de absoluta desigualdade entre os dois candidatos, a atividade do GAPE (Gabinete de Apoio ao Processo eleitoral) evidencia parcialidade, visível nas práticas de alguns dos seus delegados na composição de mesas de voto, no arquipélago e na diáspora. «Exigimos que esses abcessos antidemocráticos sejam extirpados e que as eleições sejam transparentes. Que fique claro: se houver fraudes e descarga de votos, levaremos os prevaricadores à Justiça!», ameaçou o adversário de Ulisses Correia e Silva na disputa à liderança do MpD.
Orlando Dias, que é deputado e medico de profissão, faz questão de realçar que Ulisses recusou participar em debates com a sua candidatura e já adiantou que, se perder as eleições internas, abandona o cargo de Primeiro-ministro. «Isto não é próprio de um democrata! Pelo contrário, é revelador da falta de amor ao Partido e ao País, que apressadamente resolveu adotar demagogicamente com o pregão de feira ‘pelo partido, pelo país’”.
Considerou que o facto de ter recusado qualquer debate com Orlando Dias, levou a que – por necessidade óbvia – tivesse de expor publicamente as suas propostas e envolver-se numa desgastante campanha de contactos porta a porta. «Ulisses não quis o debate porque não tem coragem de enfrentar os militantes olhos nos olhos, porque andou durante dez anos de costas voltadas para a militância, que apenas usou como tropa de choque eleitoral. O ainda líder do MpD convive mal com a diversidade, com o debate de ideias e com a partilha de poderes, por isso, promoveu uma alteração estatutária que concentra em si todas as decisões», salientou
Liderança como barriga de aluguer de ambições pessoais
Indo mais longe, Orlando Dias acusou que, desde 2013, a atual liderança do MpD teve como eixo central da sua ação o esvaziamento e apagamento do Partido. «Paralelamente à abolição das comissões políticas regionais da estrutura orgânica do MpD - com consequências nefastas para a organização interna partidária e sua capacidade de ação política -, a nova liderança interfere nas eleições para as comissões políticas concelhias e alterou a natureza orgânica da Juventude para a Democracia e das Mulheres Democratas, transformando-as em associações e desvirtuando a sua origem fundadora, ao mesmo tempo que foi apagando o papel fundamental do Partido na sociedade cabo-verdiana».
Mais adiante, prossegue Dias, nas eleições legislativas de 2016, Ulisses levou às últimas consequências o esvaziamento e apagamento do MpD, centrando toda a comunicação na sua pessoa, ocultando nos primeiros materiais de campanha o símbolo do partido e avançando com o slogan populista “Nha Partido é Cabo Verde”. «Manifesta-se evidente que, para a atual liderança, o MpD não é mais do que uma barriga de aluguer de ambições políticas pessoais, bem manifesto na circunstância de os órgãos máximos do Partido (a Comissão Política Nacional e a Direção Nacional) serem meros figurantes, com todo o poder de decisão concentrado no Presidente do Partido. Isto não é próprio de um partido democrático», alertou.
Se for eleito presidente do MpD, Orlando Dias pretende dotar o MpD de fortes organizações políticas do topo à base, retomando a orgânica das comissões políticas regionais e os núcleos locais de base, e reconfigurando a Juventude para a Democracia e as Mulheres Democratas enquanto estruturas partidárias, ao mesmo tempo que tenciona dotar o partido da mais ampla democracia, estimulando o debate interno e devolvendo-o aos militantes.
Por ética na política e cultura republicana
Para Orlando Dias, parece que toda a gente já percebeu o que se prepara sob o enganador apelo à “unidade do MpD”. «É, nem mais nem menos, a defesa de que a diversidade de ideias e a disputa interna eleitoral são más para o Partido. Porque bom, naturalmente, é o sistema montado pela atual liderança que, desde 2013, tem vindo a silenciar as vozes divergentes, a esvaziar os órgãos do Partido, a promover estruturas locais recorrendo à fraude eleitoral e a retirar a voz aos militantes»
O candidato alternativo à liderança do MpD reforçou que é um fato tudo aquilo que tem dito sobre a situação interna do partido. «Isto são factos! E, por muito que se tente construir uma realidade paralela, os militantes sabem que é pura verdade tudo aquilo que tenho vindo a afirmar sobre a situação interna do MpD. Nem mesmo o receio de se perder o poder em 2026 - uma possibilidade que existe, decorrente de uma liderança incoerente e autocrática - pode justificar que, ‘em nome da unidade do MpD’, os militantes tenham que ser obrigados a aceitar a narrativa oficial, deitando pela borda fora princípios sagrados do Partido, renegando o património histórico e político do MpD original. A ética na política e a cultura republicana são os dois princípios centrais que estiveram na origem do MpD, que resumem as suas bases fundacionais de 1990 e que permitiram a sua afirmação, em termos sociológicos, como maior partido cabo-verdiano», defendeu.
Ainda durante a conferência de imprensa, Orlando Dias analisou que a ideia de que a atual liderança une o MpD é uma falácia. « A prova é a derrota política nas eleições autárquicas de 2020, na Praia e em dois bastões históricos do MpD: São Domingos e Tarrafal de Santiago. Efetivamente, esta derrota, de facto, decorreu da circunstância de a militância e a base de apoio do Partido terem pautado pela não comparência ao ato eleitoral, decidindo castigar a atual liderança. E nem mesmo o argumento da vitória aritmética (afinal o MpD continua a ser o maior partido autárquico de Cabo Verde), consegue apagar o duro revés eleitoral. A atual liderança teve oportunidade de se reconciliar com a militância e a base de apoio, após as eleições legislativas de 2021. Porém, ganho o pleito eleitoral, mais uma vez, o ainda presidente do MpD optou por voltar as costas à militância e à base de apoio».
Dias perspetivou que regressar aos princípios que estiveram na base da fundação do MpD e a mudança de liderança, são a única possibilidade de reconciliar o Partido com a militância e a base de apoio, aumentando as possibilidades para vitórias eleitorais em 2024 e 2026.
Militantes não são ingénuos
O candidato advertiu que há quem pretenda que os militantes do MpD sejam ingénuos, que tenham a memória curta. «E isso é absolutamente evidente desde que Ulisses anunciou que é candidato à liderança do Partido», realçou.
Lembrou que, num golpe de mágica, floresceram as aberturas do ano político em todos os concelhos, o ainda presidente do Partido reuniu-se com coordenadores e, logo de seguida, entrou-se no ciclo dos encontros de militantes, com a plateia arregimentada e composta pela elite dos poderes central e local.
Segundo a mesma fonte, para esta liderança é fundamental reescrever a história, apagar da cabeça dos militantes uma década de abandono a que foram votados por Ulisses, utilizados apenas (e só!) como tropa eleitoral. «Não é uma tarefa fácil para Ulisses, mesmo socorrendo-se de recursos do Estado e do Partido, para passar como novo um velho produto de sobranceria e arrogância políticas. Naturalmente que não podemos prever o resultado eleitoral de 16 de abril, mas a manutenção da atual liderança significaria que o MpD entrou, definitivamente, num processo de apatia e atrofia coletivas» advertiu, defendendo que «o engodo das promessas e o ilusionismo político só poderá vencer se os militantes forem ingénuos,» mas «não são»
Um candidato que não se vende
Na mesma conferência de imprensa, Orlando Dias realçou que, ao fim de quase duas décadas sem disputa interna, num Partido que deveria ser um exemplo de democracia, de liberdade e de valores republicanos, os militantes do MpD vão poder, no próximo domingo,16, escolher entre duas personalidades diferentes, dois programas distintos e duas formas antagónicas de exercício de liderança e de poder.
«Também neste sentido, a nossa candidatura ousou agitar as águas do conformismo e dar um golpe demolidor na desesperança em que submergiram a BASE do Partido. A livre escolha é, também, uma vitória desta candidatura! Pesem as tentativas em me demover, os cargos oferecidos por interpostas pessoas, e a desfaçatez de tentarem que recuasse através de contactos com chefes de Estado estrangeiros, este candidato não cedeu, Orlando Dias não se vendeu», desafiou segundo o conferencista.