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Documentário apresenta Guiné-Bissau como peão importante no narcotráfico 20 Fevereiro 2023

O jornalista Micael Pereira, que apresenta hoje em Lisboa o documentário ”Via Bissau: Uma porta de entrada em África para o narcotráfico”, que correalizou com Carlos Isaac, considera que falta “articulação internacional” para combater o narcotráfico.

Documentário apresenta Guiné-Bissau como peão importante no narcotráfico

“Acho que há uma falta de articulação apesar de toda a globalização que tem existido a muitos níveis, inclusive também ao nível da forma como governos e agências dos diferentes Estados se comunicam e estabelecem trabalhos conjuntos”, afirmou, em declarações à Lusa.

O documentário resulta de uma investigação iniciada em 2020 que combinou trabalho jornalístico e uma parte académica no âmbito de uma dissertação do mestrado em Estudos Internacionais do ISCTE.

Além da Guiné-Bissau, a investigação levou Micael Pereira ao Mali, Senegal e México e foca-se na relação entre o narcotráfico e o Estado da Guiné-Bissau, sobretudo desde 2014.

O jornalista sustenta que a “falta de articulação tem a ver com muitas razões profundas” em que, do lado dos países da África Ocidental, não só da Guiné-Bissau, “há um enfraquecimento ou uma falta de capacidade das autoridades de investigarem de perseguirem criminalmente e depois de poderem, inclusive, estabelecer parcerias”.

“Por outro lado, do ponto de vista dos países da América Latina, de onde vem a cocaína, sobretudo da Colômbia e do México, julgo que as autoridades desses países estão viradas, sobretudo, para os Estados Unidos como mercado”, porque “também tem a ver com a pressão que, neste caso, os Estados Unidos exercem sobre as autoridades desses países para apresentarem resultados, para estabelecerem parcerias, sobretudo a partir das iniciativas da DEA”, a agência estatal norte-americana de combate ao narcotráfico, acrescenta.

O facto de a nível da ONU, a agência que lida com estas questões, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) não ter autoridade policial ou judicial, limitando-se à observação e troca de informações, frustra “a perseguição articulada contra as redes criminosas”, sustenta.

Nos trabalhos jornalísticos e no documentário a Guiné-Bissau é apresentada como peão importante no narcotráfico, em que parte das receitas se destina ao financiamento de movimentos fundamentalistas islâmicos no Sahel, fenómeno que para Micael Pereira traduz uma “situação preocupante, sobretudo nos últimos 10 anos”.

“No Mali há cada vez mais pressões significativas do território, cada vez mais controladas por movimentos que têm características híbridas, porque podem ser vistos como grupos terroristas, mas também como movimentos ou grupos antigos organizados em tribos que fazem naquela zona do Sahel muito contrabando”, acentua.

“A verdade é que esse contrabando passou a incluir também a droga e sempre andaram armados e sempre tiveram aspirações do ponto de vista do controlo do território”, abrindo a porta à “importação de modelos”, com a Al-Qaida a estender as suas atividades na região e o grupo extremista Estado Islâmico e o narcotráfico “acaba por estar ligado a esses fenómenos de extremismo islâmico”.

A sessão de apresentação do documentário ”Via Bissau: Uma porta de entrada em África para o narcotráfico”, inclui no final um debate moderado pela investigadora Ana Lúcia Sá, em que participam o ex-primeiro-ministro guineense Aristides Gomes, a diretora executiva da Transparência Internacional Portugal, Carina Carvalho, e os autores Micael Pereira e Carlos Isaac.

A Semana com Lusa

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