“O processo já está a ser trabalhado com o nosso regulador. O regulador é o responsável pela aprovação, sendo uma oferta pública, para garantir que quem investe sabe que está a investir e que, naturalmente, estão estabelecidas as garantias para que todos recebam os seus rendimentos. E aquilo que posso dizer é que é mais uma boa oportunidade para os cabo-verdianos poderem investir e obter rendimentos, porque vai ser uma oferta pública e ajudar o país a desenvolver-se, que é o mais importante”, afirmou o presidente da Bolsa de Valores de Cabo Verde, que assinala em maio os 25 anos de atividade.
A primeira emissão de “obrigações azuis” – para financiar projetos ligados à economia azul - em Cabo Verde, realizada através de uma oferta pública em bolsa feita pelo International Investment Bank (iiB) de Cabo Verde, rendeu o valor máximo possível, de 350 milhões de escudos (3,17 milhões de euros), registando uma procura 1,5 vezes superior à oferta, conforme anunciado em março.
A operação decorreu de 23 de janeiro a 28 de fevereiro e foi também a primeira oferta pública em bolsa - que qualquer cabo-verdiano podia subscrever, no arquipélago ou na diáspora -, mas segundo Miguel Monteiro já está a ser preparada uma segunda operação do género, embora sem avançar para já mais detalhes.
“A grande aposta tem a ver com a sustentabilidade, com estes títulos sustentáveis ‘Green Bonds’, ‘Blue Bonds’, ‘Social Bonds’”, explicou, assumindo a importância da plataforma online Blu-X, desenvolvida em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que permite realizar estes investimentos a partir do exterior.
O objetivo é que tenham “rendibilidades superiores àquilo que normalmente têm com os depósitos a prazo nos seus países de origem”.
“Estamos a falar de rendibilidade de 4,5% ou até mais. E estão a saber também que estão a apoiar Cabo Verde a desenvolver-se, seja através dos municípios, seja através das empresas, seja o próprio Governo, e tendo em conta esta questão de sustentabilidade. Todos nós sabemos que Cabo Verde sofre com as mudanças climáticas, as secas e claramente que é uma aposta que tem de ser feita e através da bolsa podem investir, ter rendibilidade e saber que estão a ajudar o país a combater estas mudanças climáticas”, destacou.
A Bolsa de Valores de Cabo Verde conta ainda, atualmente, com quatro empresas cotadas, mas quer ver esse interesse alargado às Pequenas e Médias Empresas, chegando às dez cotadas até 2025, nomeadamente pelas alterações que estão a ser estudadas pela Auditoria Geral do Mercado de Valores Mobiliários (AGMVM), em termos de critérios de acesso e na diminuição do montante mínimo do capital necessário.
Atualmente, esse valor mínimo é de 100 milhões de escudos (cerca de 900 mil euros), mas após o estudo de outros mercados, Miguel Monteiro admite que essa exigência poderá cair para 20 a 30 milhões de escudos (180 a 270 mil euros).
“É um valor muito elevado face à nossa realidade, face à nossa economia, pelo que, com essa mudança, consideramos que vamos ter condições, sim, de ter mais empresas cotadas, mais oportunidades para os cabo-verdianos investirem, obterem rendimentos e apoiarem a economia, que é o objetivo maior da Bolsa”, apontou Miguel Monteiro.
A Bolsa de Valores de Cabo Verde foi criada em maio de 1998 e conta ainda com quatro empresas cotadas, com destaque para o Banco Comercial do Atlântico (BCA, detido pelo grupo Caixa Geral de Depósitos) e para a Caixa Económica, e outras que emitem obrigações.
A entrada em bolsa da Cabo Verde Telecom, a maior operadora de telecomunicações do país, chegou a ser aprovada, mas não foi ainda concretizada.
“Neste momento são quatro. Sabemos da intenção de pelo menos mais duas empresas ainda este ano. A reguladora AGMVM está a proceder à alteração dos critérios para as empresas poderem executar e isto vai permitir certamente ter mais empresas cotadas”, afirmou o presidente da Bolsa.
“O objetivo mínimo é termos dez [cotadas]. Sabemos que vamos atingir esse objetivo, mas claramente que vamos trabalhar para mais, porque isso vai criar mais liquidez, vai criar melhores condições para os cabo-verdianos investirem, e não só, e ajudarem Cabo Verde a subir de patamar e ser um país desenvolvido o mais cedo possível nos critérios”, acrescentou.
A Bolsa de Valores de Cabo Verde fechou o ano passado com um resultado histórico de dez colocações bolsistas, face à média anual de quatro antes de 2022, tendo o montante de emissões no mercado primário, incluindo títulos do tesouro, atingido os 27.925 milhões de escudos (253,3 milhões de euros), um recorde desde o início da atividade.
A Semana com Lusa