“Os nossos países também devem olhar para isto [a invasão] como um exemplo do que pode acontecer. […] Hoje as pessoas, através do fluxo de informação que recebem pelas redes sociais e discursos extremistas de pessoas sem consciência política, podem sair à rua para usar mecanismos que não estão previstos pela Constituição, achando que estão a reivindicar direitos”, declarou Carlos Mondlane, em entrevista à Lusa.
Para o presidente da União Internacional de Juízes de Língua Portuguesa (UIJLP), no processo que culminou com o assalto ao Congresso, ao Supremo Tribunal Federal e ao Palácio do Planalto do Brasil, no passado domingo, as redes sociais desempenharam um papel importante, na medida em que foi através destas plataformas que a convocação foi divulgada.
“Talvez a palavra censura não seja adequada, mas é necessário que se criem mecanismos de controlo das redes sociais porque estão a tornar-se uma autêntica selva. […] Há, infelizmente, pessoas que são facilmente manipuláveis”, acrescentou Carlos Mondlane.
Neste momento, prosseguiu o responsável, é compreensível que o Estado recorra a sua “máquina repressora” para a reposição da ordem e do seu funcionamento pleno, dentro das regras do jogo democrático.
“Há mecanismos próprios de impugnar aquilo que politicamente pode afetar-nos. O que não se pode fazer é vandalizar as instituições e mostrar desrespeito”, acrescentou Carlos Mondlane, reiterando que a UIJLP condena o assalto e o ataque contra a democracia no Brasil.
Apoiantes do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro invadiram e vandalizaram no domingo as sedes do STF, do Congresso e do Palácio do Planalto, em Brasília, obrigando à intervenção policial para repor a ordem e suscitando a condenação da comunidade internacional.
A Polícia Militar conseguiu recuperar o controlo das sedes dos três poderes, numa operação de que resultaram cerca de 1.500 detidos.
A Polícia Federal brasileira informou que cerca de 600 pessoas presas acusadas de participarem dos atos antidemocráticos, na maioria idosos com mais de 65 anos, mulheres que têm filhos pequenos e pessoas com comorbidades graves, foram libertadas para responder em liberdade.
A invasão começou depois de militantes da extrema-direita brasileira apoiantes do anterior presidente, derrotado por Lula da Silva nas eleições de outubro passado, terem convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios.
Entretanto, o juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes afastou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, por 90 dias, considerando que tanto o governador como o ex-secretário de Segurança e antigo ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres terão atuado com negligência e omissão.
Torres é alvo de um pedido de prisão que ainda não foi cumprido por se encontrar em viagem aos Estados Unidos.
A Semana com Lusa