“Temos o plano de reconstrução de Cabo Delgado, para alguns distritos está a andar de uma forma aceitável e aqui refiro-me principalmente a Palma. Em Palma têm estado a acontecer realmente algumas reabilitações e algumas construções”, disse, em entrevista à Lusa, o diretor provincial de Educação em Cabo Delgado, Ivaldo Quincardete.
O responsável acrescentou que os ataques terroristas que afetaram a província, levando à fuga de milhares de famílias, provocaram a destruição de centenas de salas de aula, ainda por recuperar.
“Estamos com cerca de 190 escolas fechadas. Pensamos que no próximo ano, se a situação se mantiver como tem estado no último ano, nos últimos meses, acredito que vamos reabrir um pouco mais de 100 escolas”, avançou igualmente.
Contudo, Ivaldo Quincardete reconheceu que a reabilitação das escolas nos distritos de Mocímboa da Praia e de Quissanga, fortemente afetados pelos ataques, “não está a acontecer” como previsto.
“São dois distritos realmente que tiveram muita destruição, muito abandono, as escolas ficaram abandonadas com as nossas salas precárias com o tempo elas foram-se degradando, foram caindo e realmente não está a mexer muito em termos de plano de reconstrução”, admitiu.
Ainda assim, com a estabilização da situação após a intervenção militar conjunta com forças nacionais e estrangeiras, Mocímboa da Praia passou das duas escolas em funcionamento no ano letivo de 2022 para 31 este ano.
Na província atuam várias organizações no apoio aos deslocados, mas só a Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) portuguesa Helpo já reabilitou, construiu e entregou ao Ministério da Educação, em Cabo Delgado, 33 salas de aula.
Em Palma, capital da província e que acolhe a maioria dos deslocados, o número de escolas em funcionamento passou de 12 para 26 e em Quissanga das sete a funcionar em 2022 passaram para 21 este ano.
“Então isto demonstra realmente que a população está a regressar ao seu distrito, aos seus locais e, obviamente, com os seus filhos. E nós, como setor da educação, temos de realmente dar resposta ao regresso da população e para os alunos”, apontou o responsável provincial.
Atualmente, a província conta com cerca das 824 escolas, e cerca de 190 ainda fechadas.
“No ano passado tivemos 596.000 alunos, da primeira à 12.ª classe, e no presente ano de 2023 estamos com 671.000 alunos. Para o próximo ano temos uma perspetiva para 730.000 alunos”, avançou ainda Ivaldo Quincardete.
Segundo o responsável, “as necessidades são muito grandes” e “Cabo Delgado fora da situação que vive, infelizmente do terrorismo, já era uma província com défice do número de salas de aulas”.
No levantamento feito em 2020, apontava-se para a necessidade de mais 2.222 salas de aula em toda a província “para tirar as crianças que estudassem ao ar livre por baixo das árvores” e de “cerca de 37.000 carteiras duplas também para se tirar realmente as crianças sentadas no chão”.
“Apesar de tudo, as nossas crianças estão a estudar, temos salas de aulas com mais de 120, 130, 140 alunos. A nossa orientação é deixar qualquer criança que vá à escola. A escola tem a obrigação de receber a criança e acomodar para que possam posteriormente estudar”, reconheceu.
Cabo Delgado contava em 2021 com cerca de 96.000 alunos deslocados, número que caiu em 2023 com 40.000.
Pelo menos 188.852 famílias estavam deslocadas em Cabo Delgado, em fuga à violência armada no norte de Moçambique – que provocou mais de 4.000 mortos nos últimos seis anos –, totalizando mais de 773 mil pessoas, mas muitas já começaram a regressar aos distritos de origem, segundo um relatório do Conselho Executivo da Província de Cabo Delgado noticiado em agosto pela Lusa.
A Semana com Lusa