De acordo com informação do Plano de Atividades e Orçamento (PAO) para este ano, aprovado na assembleia-geral da Electra realizada na sexta-feira, no Mindelo, São Vicente, e consultada hoje pela Lusa, as previsões para os custos com os combustíveis apontam para quase 7.788 milhões de escudos (70,1 milhões de euros) em 2023, face aos quase 8.448 milhões de escudos (76,1 milhões de euros) em 2022.
Trata-se de “uma diminuição de 7,8%, justificada pelos custos de combustíveis projetados para o PAO 2023 serem inferiores aos estimados para 2022”, explica a empresa, numa alusão à escalada dos custos com a importação de combustíveis no ano passado, na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia.
O Plano de Atividades e Orçamento da Electra para 2023 prevê uma taxa de penetração de energia renováveis de 18,7%, um aumento da produção térmica em 0,3%, com um aumento na produção por renováveis em 9,4%, mas com uma subida de 1,7% nos custos com a produção da energia eólica.
A Electra, que está em processo de privatização, estima um aumento das vendas de eletricidade de 5% relação ao ano de 2022 e a diminuição das perdas de eletricidade em dois pontos percentuais. Prevê ainda um aumento da produção de água em 5,3%, o crescimento de 9,3% no volume de venda de água de 9,3% e a diminuição das perdas de 3,4 pontos percentuais este ano.
O pano de investimentos estruturantes a serem realizados pela Electra em 2023 ronda os 3.438 milhões de escudos (31 milhões de euros), prevendo a empresa estatal receitas de 13.193 milhões de escudos (118,9 milhões de euros), contra gastos de quase 13.629 milhões de escudos (122,8 milhões de euros).
O presidente do conselho de administração da Electra, Luís Teixeira, alertou em janeiro último que o furto e fraude de energia está a pôr em causa a sustentabilidade do setor, lamentando o atraso da Justiça.
“As perdas elétricas, sobretudo as perdas que têm a ver com o furto e fraude de energia, a questão da eficiência energética, são dos principais desafios que hoje o setor elétrico enfrenta. Estamos a falar de um problema que está a pôr em causa toda a sustentabilidade do setor, mas diria mais: Do país”, afirmou.
Adiantou mesmo que este cenário “vai impactar no preço final do consumidor, das empresas e das famílias”.
“Estamos a falar de cerca de 112 gigawatts-hora de energia que perdemos todos os anos. Estamos a falar de 25% de perdas a nível nacional”, explicou, durante a cerimónia realizada na Praia, de assinatura de contratos de parceria com vários órgãos de comunicação social privados, para promoção do consumo racional de eletricidade e combate à fraude e roubo de energia da rede pública.
“Entretanto, convém destacar aqui que [a ilha de] Santiago comparticipa com 36%. Mas temos casos [da ilha] do Sal, que rondam os 8%, é um número da Europa, dos Estados Unidos e é um bom número. Mas 36% em Santiago não se admite. Se retirarmos cerca de 10% - que é mais ou menos o que estimamos em termos de perdas técnicas -, significa que em Santiago, mais de 26% tem a ver com o furto e fraude de energia”, observou.
A título de comparação, Luís Teixeira explicou que essas perdas, somadas, “são mais do que a produção” de eletricidade nas ilhas de Santo Antão, São Vicente e São Nicolau, e mesmo superiores a toda a produção renovável em Cabo Verde.
“Ou seja, toda a produção de Cabo Verde em termos de energias renováveis desperdiçamos, ou perdemos ou é roubada nas nossas redes. Estamos a falar de 2,8 milhões de contos [2.800 milhões de escudos, 25,6 milhões de euros], cerca de 3,5% do Orçamento do Estado”, enfatizou.
Segundo o administrador, a Electra tem recorrido aos tribunais sempre que possível, mas os resultados não satisfazem, com 437 pessoas condenadas e 187 absolvidas: “De 2017 até 2022, estamos a falar de 3.840 processos criminais entregues. Destes 3.840, 1.061 foram julgados, 2.779 estão pendentes. Ou seja, 72% de pendências”.
Defendeu tratar-se de um problema que “também é de concorrência desleal” na economia, pelo que a empresa está a trabalhar com a Inspeção Geral das Atividades Económicas (IGAE).
“Porque temos empresas, operadores económicos, que não pagam e há outros que pagam. Isto é claramente uma questão de concorrência desleal. Põe em causa a questão da economia e da concorrência. Estamos a trabalhar com a IGAI, mas também com a Polícia Nacional a nível da proteção”, disse ainda.
“Sendo um desafio enorme, nós sozinhos não vamos conseguir vencer esse desafio. Temos ações no terreno, temos uma direção especializada. Estamos a apostar na tecnologia, contadores inteligentes, contadores pré-pagos. Estamos a melhorar as nossas lojas, estamos a tentar reduzir a burocracia”, concluiu o administrador.
A Semana com Lusa