Para a psicóloga, uma das formas de prevenção do abuso sexual de menores é educa-los, deixá-los com a sabedoria de que demonstrações de carinho e amor não passa por toques nas partes intimas, sublinhando que não existe uma idade bem definida para iniciar uma conversa sobre sexualidade com as crianças, “o importante é saber identificar o nível de compreensão” do individuo.
Suzi Chantre deixou, igualmente, sintomas psicológicas e físicas que normalmente as crianças apresentam quando são vitimas de abuso sexual que, conforme ajuntou, não engloba só penetração.
A especialista falava à Inforpress no âmbito do primeiro Congresso Internacional de Saúde Mental em Cabo Verde, que acontece nos dias 24 e 25 de Novembro, visando trazer à ordem do dia a problemática da saúde mental, no qual irá debruçar-se sobre a violência sexual nas crianças e adolescentes, uma problemática bem presente na sociedade cabo-verdiana embora seja considerada uma das “violações mais graves” dos direitos da criança.
Ainda sobre a prevenção, Suzi Chantre acrescentou que a sensibilização e dar informações às comunidades e famílias continuam a ser das melhores formas de prevenir, mostrar à população que é uma problemática “bem presente e que é necessário estar atento”.
“É necessário abordar abertamente esta questão nas famílias, porque mesmo a sociedade, as famílias não falam abertamente sobre abuso sexual e isto deve ser incluído nos diálogos das famílias. Os familiares devem ter em mente que abuso sexual é um tema de conversa assim como os outros, já que é uma situação que acontece no dia-a-dia”, posicionou.
Durante a sua apresentação, adiantou ainda, vai debruçar-se sobre o estudo realizado em Cabo Verde em 2017: “Diagnóstico sobre o perfil dos condenados por crimes sexuais contra menores” que mostra que assim como noutras paragens, a maioria dos casos de violação sexual de menores no País acontece no seio familiar.
“É bem presente nas famílias em situação de vulnerabilidade economicamente, mas acontece em todas as classes sociais, para dizer que o ato está relacionado ao cuidado da criança e do adolescente, há que fazer-se presente, o acompanhamento dos menores”, enfatizou Suzi Chantre.
Conforme realçou há lares onde não existe um diálogo frequente, que os pais e encarregados de educação não estão presentes de facto na vida das crianças o que os torna vulneráveis, propensos a este tipo de abuso e violação dos seus direitos.
Apontou ainda que são vários os sintomas que a vítima apresenta e há que estar em alerta para identificá-los, uma vez que as crianças e os adolescentes nem sempre conseguem falar sobre este acontecimento que é carregado de sofrimento, de consequências psíquico e físico, afectando “bruscamente” seus comportamentos.
“Por exemplo, quando identificar na criança um comportamento diferente do habitual, há que ajudá-la porque esse comportamento diferente já é um pedido de ajuda. São crianças que começam a irritar facilmente, chorar sem motivo aparente, que voltam a fazer chichi na cama, crianças que têm pesadelos, que desenvolvam dificuldades em dormir, diminuição de aproveitamento escolar”, crianças que evitam lugares onde sofrem abusos, por exemplo se é em casa, preferem estar noutros lugares e não em casa”, especificou a psicóloga.
Qualquer comportamento que não está enquadrado na faixa etária do indivíduo é um sinal de alerta, porque, justificou Suzi Chantre, nem toda a violação abrange penetração “que é mais visível”, sendo que há exposição da criança a cenários sexualizados.
“Sobre os indícios físicos há que ter cuidado quando a criança começa a queixar-se de dor abdominal, apresenta vestígios de sangue nas roupas, marcas negras no corpo, vestir de forma inapropriada para ocasião (por exemplo está com muito calor, mas veste casacos), se é alguém próximo começam a rejeitar a presença da pessoa, podem verbalizar expressões de teor sexual”, exemplificou.
A Semana com Inforpress