“É nomeada Eurídice do Nascimento Gonçalves Mascarenhas, Licenciada e Mestre em Psicologia, para, em comissão de serviço, exercer o cargo de Presidente da Comissão Nacional para os Direitos Humanos e a Cidadania (CNDHC)”, lê-se na resolução governamental publicada em Boletim Oficial.
Eurídice Mascarenhas vai substituir no cargo Zaida Freitas, que liderou a comissão nos últimos quase sete anos, numa instituição que em outubro o executivo desistiu de extinguir, após o parlamento dar indicação que a proposta não iria ser aprovada.
Em 22 de abril de 2022, o Governo cabo-verdiano anunciou a alteração do estatuto do provedor de Justiça, para passar a ter outras funções, entre as quais integrar a atual CNDHC, criada em 2004.
O projeto de proposta de lei que regula o estatuto do provedor de Justiça seria uma alteração no âmbito da reorganização administrativa dos direitos humanos, que pretendia extinguir a CNDHC, alterar a orgânica da Provedoria de Justiça e redefinir as atribuições do Ministério da Justiça no setor.
Na proposta que foi ao parlamento, mas não chegou a ser discutida, introduzia-se que o provedor de Justiça vai passar a ser a instituição nacional independente de monitorização da aplicação de tratados e convenções internacionais em matéria de direitos humanos.
Os dois partidos da oposição no parlamento cabo-verdiano - Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), com 30 deputados, e a União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), quatro deputados – afirmaram anteriormente serem contra a extinção da comissão e manifestaram reservas quando à aprovação do novo estatuto da Provedoria da Justiça.
Em junho, a secção portuguesa da Amnistia Internacional (AI) manifestou-se preocupada com a anunciada extinção da CNDHC por parte do Governo de Cabo Verde, para integrar a Provedoria da Justiça, e pediu ponderação.
Em comunicado, a mesma instituição considerou que a CNDHC tem dado um “contributo meritório” e tem tido um “forte comprometimento” com a promoção e proteção dos direitos humanos em Cabo Verde.
A organização de defesa dos direitos humanos recordou na nota que acompanhou de perto os esforços da comissão para se fortalecer institucionalmente, através da aprovação de um novo estatuto, seguindo as diversas recomendações ao Estado de Cabo Verde por parte de vários órgãos de tratados e mecanismos de direitos humanos das Nações Unidas.
Esse reforço foi sobretudo “na disponibilização de recursos humanos, técnicos e financeiros e na garantia da plena conformidade da instituição com os Princípios de Paris em matéria de independência”, salientou, dizendo que acompanhou e apoiou ainda a capacitação da instituição, bem como das organizações e associações de direitos humanos em Cabo Verde.
A AI entendeu que pelo trabalho conjunto que tem feito com a comissão, a experiência acumulada ao longo dos quase 18 anos de existência da Comissão “deve ser privilegiada”.
“A resolução de insuficientes recursos humanos, materiais e financeiros, tanto na CNDHC como na Provedoria de Justiça, não se mitigarão extinguindo uma organização e dando um mandato com mais funções à Provedoria de Justiça”, protestou.
Para a secção portuguesa da AI, qualquer reformulação ou nova instituição deve ser feita de modo que a mesma se possa habilitar a ser acreditada como instituição nacional de direitos humanos pela Aliança Global de Instituições Nacionais de Direitos Humanos, organização internacional que faz a acreditação, congrega e fornece apoio às instituições na promoção e proteção dos direitos humanos.
“Neste sentido, e dada a qualidade, presença e trabalho conjunto que a CNDHC desenvolve junto das mais diversas organizações e associações de defesa de direitos humanos em Cabo Verde, a Amnistia Internacional-Portugal acompanha com preocupação esta decisão”, salientou.
A Semana com Lusa