Em declarações à Lusa, no final da conferência "Estará a Europa Mais Preparada Perante a Ameaça Terrorista?", promovida pelo Observatório do Mundo Islâmico (OMI) e pela Autónoma Academy (ligada à Universidade Autónoma de Lisboa), Filipe Pathé Duarte lembrou que o terrorismo “está sempre um passo à frente” das forças de segurança e que vive da dificuldade de ser monitorizado.
“Em relação há última década ou década e meia [a Europa] está [mais segura]. Mas ainda está muito longe de podermos dizer que a Europa está um continente seguro no que diz respeito à ameaça terrorista”, sublinhou Pathé Duarte, da NOVA School of Law, destacando várias razões para que assim seja.
“Há o facto de que o terrorismo está sempre um passo à frente relativamente à reação, no sentido em que o terrorismo vive da dificuldade de monitorização deste tipo de ameaças, da aleatoriedade e dos espaços que nos permitem ter uma sociedade aberta”, defendeu à Lusa.
Para o analista de política internacional, é nesses espaços que “gravita o terrorismo”, o que permite haver um conjunto de ações violentas, no caso específico da Europa.
“Estamos falar de ações com objetos do quotidiano, como facas, etc, e com atropelamentos com automóveis, por exemplo. É aqui que acontecem este tipo de ações terroristas, provando a nossa vulnerabilidade, tornando-se um desafio às sociedades abertas”, sustentou.
Para Pathé Duarte, a melhoria das relações comunicacionais entre as diferentes forças de segurança europeias “obrigou, de certa forma”, os grupos terroristas a procurarem refúgio noutras zonas do mundo, nomeadamente no Sahel, em África, embora, destaque, sejam “realidades diferentes”.
“Uma situação é o caso da ameaça terrorista na Europa. Outra coisa é em realidades em que as estruturas sociais e políticas são frágeis, particularmente no caso de África. No caso particular do ‘jihadismo’ global, esse gravita e parasita Estados frágeis com objetivo de aproveitar o descontentamento e o isolamento das populações em relação aos governos centrais”, argumentou.
Para o fazer, prosseguiu, exploram a corrupção dos governos, problemas de governação que aí existem, os sectarismos étnicos ou religiosos, e depois, a dificuldade que esses executivos e esses Estados têm para controlar o território, abrindo portas à criação de “bases operacionais” a partir de onde se pode fazer o recrutamento, definir os apoios, numa espécie de “zonas libertadas” controladas pelos extremistas.
"Isso, em África, tem sido claramente cada vez mais uma matriz desta realidade. Veja-se o caso da costa ocidental africana, como o Burkina Faso, o Mali, etc, onde há um aumento do terrorismo ‘jihadista’ de uma forma muito problemática. Nos últimos anos houve seis golpes de Estado…”, concluiu.
Na conferência de terça-feira, o vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico (OMI), João Henriques, defendeu que o Daesh [grupo Estado Islâmico – EI] "revolucionou o movimento ‘jihadista’ salafista global, levando alguns analistas a acreditar no seu desmantelamento e no colapso da organização rival – a Al-Qaida.
O Daesh foi derrotado formalmente, em 2019, pelas forças da Coligação Internacional, mas tanto neste caso como no da Al-Qaida "a História contrariou dramaticamente estas teses, mostrando como o terrorismo transnacional desafia a segurança europeia e mundial com a sua enorme capacidade de adaptação aos meios de combate que lhe são movidos pelas autoridades”, justificou João Henriques.
“Sob o ponto de vista geográfico, os acontecimentos dos anos mais recentes têm vindo a fazer do continente africano, com particular destaque para a região do Sahel, o epicentro da maléfica atividade ‘jihadista’ salafista global. Para a Europa, a ameaça terrorista no Sahel continua elevada, onde o risco de ataques e raptos contra ocidentais se mantém também elevado, muito em particular no Burkina Faso, no Mali, no Níger e no Chade, a par de outros países da região”, terminou.
A Semana com Lusa