A avó de Salvador contou em entrevistas na televisão que se despedira da filha no dia 26 de dezembro e que "a decisão de manter vivo o bebé é do Bruno, que sempre desejou ser pai".
De novo entrevistada na TVI, esta semana, Fátima Branco abre-se sobre a mágoa de a terem afastado do neto. Não diz quem, mas entende-se que o responsável é Bruno — que está ao seu lado (foto), ambos sem contacto visual, durante a entrevista.
Foram mais de três anos de relação difícil entre a avó e o pai de Salvador(foto), o filho muito desejado da relação de seis anos de Bruno e Catarina (enterrada no dia seguinte ao nascimento).
"Eu perdi uma filha... Não há dor como esta"
"Todos sofremos. Não há dor como esta. Nunca pensei. É preciso ter muita estaleca para aguentar isto. Se não querem compreender não compreendam mas tenham um bocadinho de respeito. Isto não é um programa de entretenimento, foi uma coisa que me aconteceu a mim e que futuramente poderá acontecer a mesma coisa a outra mãe", dizia em março, dias antes de nascer o neto.
Fátima que em Portugal ficou conhecida como a avó do bebé milagre relembrou esta semana que "O Salvador nunca passou uma única noite em minha casa". Mas assume que hoje, "tudo já está resolvido".
Salvador, filho da canoista Catarina Sequeira que os médicos mantiveram viva para permitir o desenvolvimento do bebé até à cesariana marcada para 29 de março — mas que teve de ser antecipada um dia.
A atleta asmática desde a infância pôde driblar a doença e vencer no desporto de alta competição. A "miúda frágil, com uma compleição física que não fazia adivinhar grande sucesso", como os amigos contaram ao Observador. Foi a dedicação e o trabalho que levaram a "menina pobre de uma família disfuncional, com [mais] oito filhos", à glória da competição internacional e, segundo a Federação de Canoagem, à conquista de 41 medalhas. Até que alguns dias antes do Natal, em casa, um ataque de asma agudo foi irreversível.
Junho de 2019: Fátima, mãe de 9 filhos
Aos quase três meses de Salvador, a avó foi protagonista de uma entrevista, com a veterana jornalista Júlia Pinheiro. Muito emotiva, Fátima revelou o seu passado difícil.
"Posso dizer que a minha vida é… Conhece aquele filme ‘Dormir com o Inimigo’? Eu durante 20 anos dormi com o inimigo", afirmou. O filme com Julia Roberts (foto, em baixo à d.ta).
Júlia perguntou-lhe se falava de violência doméstica e a mãe de Catarina confirmou: "Passei por tudo e mais alguma coisa" durante "20 anos às mãos do pai dos meus filhos".
Uma vez, "[t]ive de sair com quatro filhos. Eu é que tinha pagado as contas e tive de sair de casa com quatro filhos e ir para uma pensão. Fui com os dois gémeos, a Catarina e o João, e a Mafalda e o António. Nas paredes havia baratas a passear durante a noite".
Fátima Branco conta que "os filhos sempre foram o único apoio" com que contou.
"Continuei a trabalhar. Eu sou empregada de limpeza. Fui intitulada pelo meu ex-marido de tudo e mais alguma coisa. Títulos não faltaram. Entradas e saídas do hospital também não faltaram".
"Eu perdoo-o de tudo… Só não perdoo uma coisa". Já separada do ex-marido, Fátima tem uma certeza: "Eu perdoo-o de tudo. De toda aquela cena de pancadaria, de violência psicológica… Só não perdoo uma coisa. De ele me ter tornado uma pessoa amarga como me tornou. E passei muitas vezes essa amargura para os meus filhos. Eles assistiram a tudo".
Quando a tragédia de Catarina aconteceu, o pai acompanhou a filha nos três meses no hospital, mas não ao lado de Fátima. "Sim, ele é pai deles. Ele esteve presente. Não esteve ao meu lado porque eu não quis. Se há coisas que eu jamais poderei esquecer… Quando uma pessoa diz em tribunal que me espancava porque me amava muito, isso magoou-me muito".
Fátima Branco faz revelações sobre esses três meses no hospital: A Catarina chegava a levantar-se". Familiares e amigos ainda tinham esperança de vê-la acordar durante o parto.
Fontes: TVI/... Relacionado: Atleta portuguesa dá à luz em morte cerebral, 30.mar.019. Fotos: Salvador filho de Bruno que "sempre desejou muito ser pai", segundo Fátima, a avó. Nasceu no Porto, a pesar 1.700g, este que é o segundo bebé português de mãe em morte cerebral: o primeiro, também chamado Salvador, nasceu em Lisboa em 2016 e pesava 2.350g. São raros os casos registados a nível mundial.