A Semana - Qual é neste momento o ambiente que ronda a Festa da Bandeira e do Dia do Município em São Filipe?

Nuías Silva - Neste momento já se vive e respira aquela que é a tradicional Festa da Bandeira de São Filipe. A cidade ganhou uma outra dinâmica em termos de colorido e pessoas que chegam da nossa vasta diáspora nos Estados Unidos da América e também das ilhas. Já se nota uma nova dinâmica económica, através do movimento nos hotéis, restaurantes e na própria vivência e nas actividades culturais que começam a proliferar pela cidade. A cidade ganhou uma nova dinâmica e este ano temos a bênção de podermos celebrar num ambiente de muita modernização e transformação da cidade. Temos muitas obras que ainda não estão concluídas, mas permitem que as pessoas que nos visitam tenham noção da cidade que se está a construir, como a asfaltagem a decorrer nas principais artérias de São Filipe e outras obras que vamos dando a conhecer ao público.

Pode destacar os aspectos mais relevantes das festas deste ano?

 Os aspectos mais relevantes da festa têm a ver com a temática da festa. A festa deste ano é dedicada aos emigrantes. É uma espécie de “back to the rout (de volta à rota)”. Nós queremos que os emigrantes estejam próximos do desenvolvimento da nossa ilha e do nosso município. São importantes na estratégia de desenvolvimento da ilha, daí que o nosso objetivo é atrair o máximo de emigrantes para estas festas e apresentar-lhes as perspetivas de desenvolvimento do município e também as perspetivas de investimento e, a partir daí, em simbiose perfeita, desenvolvermos uma relação.

Movimentação na cidade e ofertas para visitantes

Fale-nos da movimentação forte que se observa na cidade nestes dias, com destaque para os emigrantes e visitantes e o forte programa cultural e desportivo das festas.

 Já se sente o fervilhar daquilo que é a movimentação da cidade, das cores e do perfume que ganha. Auguro que este ano teremos boas festas, como jamais realizadas na ilha e no país. Teremos grandes artistas a atuarem no nosso festival do Presídio, teremos corridas de cavalo com premiações excelentes: o primeiro prémio está fixado em 500 mil escudos. Temos premiações até o sexto lugar e premiações a todos os participantes. Destacamos ainda as corridas de atletismo e de botes, as provas de ciclismo, os jogos de mesa das mais diversas áreas (damas, oril, cartas, etc), e também teremos provas de futebol e atividades culturais. Os estabelecimentos comerciais privados já começaram a lançar os seus cartazes de artistas para complementar aquilo que são atividades do município. Vai se ter uma oferta diversificada na Casa Cinema, no Zebra, no Érica Lounge Bar, no Melissa Guest House, no Sea Food, entre outros. Enfim, haverá uma série de atividades dos privados, que constitui uma inovação da festa deste ano em São Filipe.

E os preparativos começaram cedo.

- Começamos cedo a preparar a festa e envolvemos todas estas pessoas em reuniões com a Câmara Municipal para poderem se preparar para organizar atividades complementares, de forma que o turista, o visitante, o emigrante e os munícipes possam sentir-se ocupados com várias atividades e a partir daí optar por aquelas que prefere. Nós vamos ter excursões para Chã da Caldeiras e para o Santuário de Nossa Senhora do Socorro (as inscrições já estão abertas nas instituições e empresas de turismo da ilha). A ideia é um “djunta mon” entre o público e o privado para termos uma agenda grande, que permita a qualquer visitante poder optar dentro das ofertas que vamos fazer, para além da oferta gastronómica que é muito forte nesta altura com os pratos tradicionais e também com outras atividades.

Cartaz de artistas e parceria privada

O que diz sobre o cartaz de artistas?

- Começamos este trabalho em dezembro do ano passado e neste momento está tudo fechado pela empresa que a câmara municipal contratou para a produção dos bailes/espetáculos, que é a Fogo Entertainment. Estamos a trabalhar para que possamos inaugurar o Presídio entre 20 e 22 de abril, e logo no dia seguinte fazer a sua vedação para receber já no dia 25 as atividades da Noite Branca, que dá início à festa no Presídio. Mas a festa deste ano começou mais cedo, no dia 22 de abril, com o Beach Party Sunset.

Porque esta parceria entre a autarquia e a Fogo Entertainment?

 Resolvemos profissionalizar as festas de São Filipe. As festas de São Filipe têm uma dimensão económica muito forte e actualmente até um cariz internacional. Já não é uma festa só do município, é também um produto turístico. Por isso, entendemos que devíamos ter contrato com uma empresa que pudesse trabalhar ao longo do ano nas diversas componentes da festa. No ano passado fizemos uma tentativa com um concurso. Este ano corrigimos as deficiências do ano anterior e assinamos um contrato com a Fogo Entertainment para produzir a parte do Festival das Festas de São Filipe. Mas as Festas de São Filipe são muito mais do que este festival, pois inclui também atividades desportivas, culturais, recreativas, gastronómicas.

Homenagem a emigrantes e impacto da festa

Porque este ano a festa é dedicada aos emigrantes?

 Este tema decorre do reconhecimento do papel que o emigrante tem no desenvolvimento de São Filipe, que é muito importante. Os emigrantes contribuem muito para aquilo que é a dinâmica económica da ilha, principalmente no sector da construção, no sector social, apoiando as famílias, nas remessas de emigrantes, no envio de bidons e encomendas dos EUA, bem como na dimensão do parque automóvel. Em tudo isto há uma grande influência dos emigrantes, que contribuem assim para a dinamização da economia do Fogo. E ainda bem, porque a estratégia de desenvolvimento do Fogo e de São Filipe não pode ser equacionada sem ter a peça importante deste puzzle, que é os nossos emigrantes. Nós queremos, através das festas deste ano homenagear todos aqueles que um dia tiveram que deixar sua terra para ir procurar uma vida melhor no estrangeiro, e que mesmo longe têm contribuído diariamente para que os sonhos daqueles que ficam e os seus sonhos possam também ser realizados.

Que mensagem dirige aos emigrantes?

 A mensagem que dirijo aos emigrantes é uma mensagem de esperança no país, na ilha e no município. Nós queremos que tenham a convicção de que São Filipe quer se modernizar, quer se transformar num município competitivo. E que nós precisamos muito deles para fazerem investimentos em várias áreas que São Filipe tem vantagens comparativas de qualidade, nomeadamente no setor de agronegócio, no setor das pescas, nos serviços, no turismo ligado ao ambiente, etc. A nossa mensagem é de boas-vindas, que desfrutem do município, que quer ser um município para visitar, viver e amar. É neste contexto que os recebemos e de braços abertos. E faço votos que passem umas boas festas de Nhô São Filipe.

Como entende o impacto económico da festa da Bandeira e do Dia do município na cidade, no Município de São Filipe e no Fogo em geral?

 As festas de São Filipe costumam ser o oxigénio na economia local. Aliás, nós devemos preparar a ilha para termos vários momentos altos como o das festas de São Filipe e assim dinamizar a economia local. As festas de São Filipe são o momento em que vários empresários e investidores acabam por ter um bom retorno dos seus investimentos. Nós queremos este ano que seja um dos melhores em termos de dinamização da economia.

Inauguração de grandes obras

Mudemos de assunto. Quais são as grandes obras que serão inauguradas durante e depois da festa?

 Estamos com várias obras para inaugurar durante as festas. Algumas serão inauguradas já e outras logo na sequência. Temos um período que vai das festas de São Filipe até a comemoração do dia da cidade, 12 de julho, para fazer essas inaugurações. Ou seja, algumas inaugurações serão feitas nos meses de maio, junho e julho. Contudo, já neste mês de abril, inauguraremos algumas habitações sociais do Projeto “Nha Kaza”, além de alguns arruamentos, nomeadamente em Achada São Filipe, Cutelo de Açúcar e Congresso. Estaremos também participando em Campanas de Cima na inauguração de uma unidade de transformação agroalimentar em parceria com a Cospe. Faremos a assinatura do contrato de arrelvamento do campo de treino de Ponta Verde e teremos ainda a inauguração do Novo Presídio, da Nova Praça de Cruz Vermelha, da Escola de Italiano, da Escola de Jardim Batente, da Casa do Munícipe de Ponta Verde, das placas desportivas e dos arruamentos de Alto de Santa Luzia, da Placa Desportiva e do Centro Multiuso de Curral Grande, do Novo Centro Cultural Armando Montrond, já devidamente equipado com salas para aulas de música e atividades culturais. Temos ainda o Monumento Teixeira de Sousa, um monumento feito de bronze que ficará na Praça, frente à casa onde ele viveu, e que foi financiado numa parceria público-privado pela empresa Manuel Gomes dos Anjos. Faremos ainda a apresentação de projetos importantes para São Filipe, por exemplo, o primeiro Kartódromo de Cabo Verde para o qual queremos mobilizar parcerias público-privado para o seu investimento e que foi projetado em parceria com a Câmara Municipal de Palmela. Faremos igualmente a apresentação do projeto do Estádio de Patim, do Matadouro Municipal e do projeto do Pavilhão Gino Desportivo Simão Mendes. Faremos a apresentação dos três últimos projectos e, de imediato, lançaremos concurso para arranque dos trabalhos no verão. No dia 1 de junho pretendemos inaugurar a Praça de Cruz dos Passos e a Alameda de Cruz dos Passos. Também por altura da comemoração do dia cidade de São Filipe vamos inaugurar a primeira piscina municipal de Cabo Verde.

Investimentos e atraso de algumas obras por falta de transporte

Que constrangimentos estiveram na origem do atraso na execução de algumas das obras que estavam previstas para serem inauguradas por esta ocasião?

 Em algumas obras tivemos imprevistos por causa dos transportes. Por exemplo, em relação à Praça de Cruz de Passos, os equipamentos de diversão (carrossel, etc.) ainda estão a caminho do Fogo. Encontramos dificuldades enormes nos transportes dos mesmos. Daí que vamos adiar a inauguração para o dia 1 de junho (Dia Internacional da Criança). O mesmo se pode dizer no tocante à Alameda de Cruz de Passos. Temos também o Monumento de Cavalo, que devia ser inaugurado agora, mas que, por causa de problemas nos transportes só chegará na próxima semana, mas, devido ao trabalho que a sua instalação exige temos também que adiar a sua inauguração para 1 de junho. Há ainda a piscina municipal, cujos materiais de acabamento demoraram um pouco a chegar, mas agora já estão todos em São Filipe. Estamos num processo acelerado de término da piscina, que será inaugurada entre os meses de junho e julho, o mais tardar. Destaco também o projeto da Pedonal de Alto São Pedro, que infelizmente não vai ser possível inaugurar por causa do atraso no projeto de requalificação do centro histórico, a sua inauguração está prevista para daqui a um mês. Quanto à asfaltagem da cidade, em parceria e financiada pelo Governo de Cabo Verde no âmbito do projeto PRAA, deverá ser inaugurada no verão deste ano.

Qual é o valor global de investimentos realizados nessas obras?

 As obras em curso têm orçamentos avultadíssimos. Só o orçamento de investimento da CMSF para este ano ronda os 500 mil contos. Isto sem contar as obras que são financiadas diretamente pelo Governo, como a asfaltagem e a requalificação do centro histórico.

Resgate de grandes figuras e mensagem aos festivaleiros

Em que consiste a homenagem que a Câmara Municipal vem prestando ao escritor Henrique Teixeira de Sousa?

 Nós queremos resgatar aquilo que são os “grandes”, os “maiorais” da ilha do Fogo e São Filipe. Lançamos no ano passado o Prémio Pedro Cardoso, publicamos o livro do vencedor do Prémio Pedro Cardoso “Festas tradicional na roda di burkan”, de Lourenço Gomes de Pina, que valoriza a vertente do crioulo do Fogo. Lançamos também o Prémio Teixeira de Sousa, estamos na fase de análise das propostas para vermoa quem será o vencedor. Lançamos ainda a Revista Bila, que é uma publicação turística e cultural de São Filipe. Com tudo isso, estamos a valorizar a nossa história. Tencionamos colocar nas praças, monumentos e sítios do município estátuas de pessoas do Fogo que se notabilizaram em determinadas áreas. Teixeira de Sousa foi um notável na área de medicina, enquanto médico nutricionista e também enquanto escritor (romancista), e também enquanto autarca. Daí a justa homenagem que prestamos à sua figura. No próximo ano vamos homenagear uma outra figura. Nossa ideia é todos os anos homenagear com uma estátua uma figura de São Filipe e do Fogo para embelezar a nossa cidade e criar mais atrativos de monumentos e sítios, resgatando e valorizando, ao mesmo tempo, a nossa identidade e história. Este ano faremos dois, o de Teixeira de Sousa, que será inaugurada agora, e o Monumento do Cavalo, que será inaugurado entre final de maio e início de junho. Para o ano que vem a nossa ideia é erguer pelo menos mais um monumento com a estátua de mais de uma figura grande de Djarfogo. Já estamos a trabalhar, mas não podemos ainda revelar nomes.

O que espera dos festivaleiros e dos munícipes durante a celebração da festa do 1º de Maio?

 Esperamos que as pessoas possam desfrutar de tudo que a cidade oferece. Uma cidade histórica, com um importante centro histórico e candidata a Património Mundial da Humanidade. Mas também que desfrutem de um município que tem vários pontos de interesse turístico, nomeadamente lindas praias de areia negra, a estância balnear de Salinas, o santuário de Nossa Senhora do Socorro, a aldeia turística de Campanas de Cima e outros pontos de grande interesse. Podem disfrutar, conhecer e apreciar também os aspetos culturais e tradicionais da Bandeira de São Filipe, nomeadamente o pilão, a diversidade gastronómica, a matança de animais. São experiências únicas que nós queremos oferecer e esperamos que eles participem em todas as atividades previstas, desde as tradicionais corridas de cavalo e até ao baile no Presídio.

Promessas cumpridas e melhor futuro para São Filipe

Estando já com mais de dois anos de mandato, como avalia, de forma resumida, o cumprimento do seu programa de governação apresentado aos eleitores?

 Estamos a cumprir com São Filipe. Fizemos promessas na campanha e não obstante as dificuldades trazidas pela crise e as dificuldades em termos de transferências de recursos centrais para o município (nós temos aproveitado as verbas que nos cabem no âmbito do Fundo do Turismo e do Fundo do Ambiente e a mobilização de recursos junto dos parceiros internacionais da nossa diáspora, empresários da ilha e outros, que nos têm ajudado), estamos a cumprir todas as promessas que fizemos aos sanfilipenses. Já começamos a trabalhar nelas, o que mostra claramente que, para o resto de mandato que falta, nós teremos tempo para concluí-las e para podermos concluir a nossa governação com um saldo positivo de compromisso assumido - obras feitas.

Que mensagem deixa aos munícipes sobre o futuro da cidade e do município de São Filipe?

 Deixo uma mensagem de esperança e que acreditem no futuro de São Filipe. Eu acredito em São Filipe e acredito na ilha do Fogo. Acredito que se a ilha mantiver a dinâmica que estamos a notar neste momento, dentro de dez anos a ilha do Fogo e São Filipe, em particular, se transformará numa capital regional importante para a região e para o país. Essa ideia de transformar São Filipe numa capital regional importante não só para a região, mas também para o país, é também importante para o desenho da estratégia do circuito comercial que denominamos Eixo Sotavento, que envolve as ilhas do Maio, Fogo, Santiago e Brava. É nesta perspetiva que queremos mobilizar pessoas para investirem na ilha e criar oportunidades de emprego, trazer o Ensino Superior para a região e mobilizar pequenas indústrias de transformação para o sector das pescas, da agropecuária e de vinicultura. Se houver uma estratégia muito bem concertada, Fogo terá um futuro promissor. Falta-nos alguns investimentos fundamentais para que a ilha possa projetar todo o seu potencial, nomeadamente um aeroporto internacional e um porto de Vale dos Cavaleiros com maior dimensão e profundidade de calado para atracagem de navios de cruzeiros que demandam a ilha, mas que ficam ao largo do cais porque o cais não está preparado para acostagem desses navios. Se eliminarmos essas amarras e barreiras que constrangem o desenvolvimento da ilha, alinhado com as estratégias que os municípios estão a implementar em termos de infraestruturas económicas, todos podem ter confiança que Fogo é uma ilha com futuro.