A mística da Baía das Gatas já transcendeu o imaginário dos jovens que quiseram criar um festival em São Vicente, nos inícios da década 1980, inspirado nos ideais do filme Woodstock, que reuniu cerca de 500 mil pessoas numa fazenda em 1969 em Nova York, nos Estados Unidos de América, para três dias de paz e música.
Baía transformou-se num festival multifacetado, com várias iniciativas paralelas, que incorporam tradição, actividades culturais, recreativas, gastronomia e, sobretudo, a convivência.
É esta fraternidade que tem sido o atractivo para as pessoas voltarem ao festival, ano após ano, como disse à Inforpress o jovem Dany Correia, com os pés fincados no chão e olhos a acompanhar o vaivém de uma enxada com a qual cavava buracos para fixar duas tendas para receber um grupo de familiares que vieram de Santo Antão para o festival.
O jovem afirmou que já perdeu as contas de quantas vezes acampou sozinho na Baía das Gatas para “desfrutar do momento”, mas pelo menos com os familiares “já faz nove anos nesta aventura”.
Tradicionalmente, explicou, o grupo chega à Baía sempre na quinta-feira antes do festival e regressa à cidade somente na segunda-feira depois do encerramento do evento, mas há sempre quem prefere estar em casa, na cidade do Mindelo, e ir apenas à noite para ver as actuações.
“Baia é sempre bom independentemente dos artistas que vão actuar. Tenho os meus gostos, mas nunca vou vaiar um cantor no palco porque não é fácil estar lá, mesmo que ele esteja a receber um cachê sei que ele está a lá a esforçar-se para nos dar o melhor”, afirmou, realçando que faz acampamentos não por causa dos artistas mas pelo ambiente que o festival proporciona.
E porque o cartaz deste ano traz Zé Delgado, um dos seus artistas predilectos, a par de Grace Évora, Dany Correia diz ter todos os motivos para festejar.
“O que vale é a convivência e como a desfrutamos porque nem sempre a câmara acerta em termos de artistas, porque os gostos são diferentes e não consegue agradar toda a gente. Eu gosto de Grace Évora e Zé Delgado e os mais jovens como os meus sobrinhos que estão aqui gostam do Elji Beatzkilla. Então, vamos nos coabitando neste encontro de gerações”, declarou.
Por sua vez, Jaqueline Silva, que já tem mais de 25 anos a acampar por alturas do festival, considerou que Baía das Gatas é algo único.
Segundo a mesma, começou a fixar tendas desde antes do nascimento do primeiro filho e para esta edição reservou um espaço que alberga toda a família – filhos, netos e sobrinhos – todos com espaços reservados.
“Costumo chegar na quarta-feira para ficar a minha tenda, mas este ano chegamos hoje [quinta-feira] e só regressamos à casa na terça-feira. O festival representa um momento de convívio com a minha família. É uma tradição juntar a família para vir conviver. Todos os anos que venho acho o festival bom. Os artistas nos alegram mas também temos de retribuí-los”, explicou Jaqueline Silva, para quem o certame não depende só dos artistas mas do estado de espírito de cada um e da forma como consegue viver o evento.
A 39ª. edição do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas, que este ano homenageia o falecido cantor Bana, tido como “O rei da morna”, arranca hoje, justamente com o tributo ao homenageado, proporcionado pela Banda Monte Cara e por nomes como Leonel Almeida Dany Silva e Jenifer Solidad.
Do alinhamento do primeiro dia constam ainda nomes de artistas e bandas como Zé Delgado & Friends, Josslyn, Nelson Freitas e, a fechar, Alborosie & Shengen Clan.
Sábado, 12, haverá uma corrida de cavalos organizado pelo Clube Hípico do Mindelo, mas à noite o palco abre, também às 21:00, com uma demonstração do Carnaval de São Vicente e as vozes de Edson Oliveira, Gai Dias, Constantino Cardoso e Anísio Rodrigues, seguindo-se a brasileira Paula Fernandes, Dynamo, Xamã e Deejay Télio.
O certame encerra no domingo, 13, com o desfile de artistas e bandas, a principiar às 18:30, sendo eles Ceuzany, Dino d´Santiago, Protoje, Plutonio, Yuran Beatz, Ary Beatz & Mc Acondize.
O Festival Internacional de Música da Baía das Gatas, que este ano celebra a 39ª edição, teve a primeira edição no dia 18 de Agosto de 1984.
É realizado anualmente na praia da Baía das Gatas, a oito quilómetros da cidade do Mindelo, e não se realizou ali apenas em 1995, devido a uma epidemia de cólera que assolou Cabo Verde, e nos anos 2020 e 2021, por causa da pandemia da covid-19, em que se concretizou o evento no formato online.
Anualmente, a Câmara Municipal de São Vicente, que organiza o certame, reserva uma verba no orçamento municipal para fazer face às despesas com a logística, viagens e cachê de artistas de Cabo Verde e do estrangeiro, mas “o grosso do montante” para suportar o evento, de acordo com a autarquia, provém de patrocínios de empresas e outras instituições.
A Semana com Inforpress