Ao longo das sessões, Rui Pinto confessou "algum arrependimento" pelas suas ações, a começar pela criação, em 2015, da plataforma Football Leaks através da qual divulgou milhares de documentos relativos a contratações de jogadores e negócios entre clubes, sociedades de advogados e mediadores desportivos.
Rui Pinto foi no início de 2019 detido na Hungria, onde residia desde 2016, e começou a ser julgado em setembro de 2020. Durante o período em que esteve detido começou a colaborar com as autoridades portuguesas e deu também apoio a investigações levadas a cabo pelas autoridades francesas.
Na fase das alegações finais, feitas em janeiro deste ano, Rui Pinto disse estar arrependido e reconheceu ter violado a lei.
Logo que for lida a sentença — adiada na sexta-feira, devido à greve dos funcionários judiciais — , Rui Pinto vai continuar a contas com a justiça, como arguido noutro processo por factos relacionados com os que estão em causa no atual julgamento, conforme revelou em tribunal o advogado do arguido, no início das alegações finais.
"Rui Pinto foi constituído de novo arguido relativamente a factos que estão aqui em julgamento. O processo tem três anos, mas o Ministério Público só nesta sexta-feira constituiu Rui Pinto como arguido", afirmou o mandatário, que deixou críticas ao que disse ser uma "estratégia perversa" do Ministério Público.
O MP pediu a condenação de Rui Pinto a pena de prisão, ao notar que ficaram provados os acessos ilegítimos aos servidores da Federação Portuguesa de Futebol, da Procuradoria-Geral da República e da sociedade de advogados PLMJ (todos assistentes no processo), admitindo somente que não se provou a sabotagem informática à SAD do Sporting, como constava da acusação.
O outro arguido deste caso, o advogado Aníbal Pinto, que responde apenas pelo crime de tentativa de extorsão à Doyen, reafirmou na conclusão das alegações finais a sua conduta ao longo de todo o processo, repetindo a lisura da sua atuação: "Ao longo de mais de 60 anos de vida nunca cometi qualquer crime. Em prol da minha defesa, gostava que ficasse claro que em nenhum momento o meu comportamento foi criminalmente reprovável".
Rui Pinto, de 34 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde agosto de 2020, "devido à sua colaboração com a Polícia Judiciária" e ao seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
Fontes: . Relacionado: "Luanda Leaks": Advogado pede estatuto de "denunciante" para hacker português, 28.jan.020; "Portugal prendeu um herói", dizem palestrantes em Lisboa sobre ’hacker’ Rui Pinto, 15.fev.020; Conversa Interrompida — Rui Pinto: herói hacker, bandido chantageador?, 10.abr.020.