Airton Jesus lembra que já em maio a FT começa a preparar a campanha de proteção das tartarugas. Assim, inicia a montagem dos acampamentos e dá formação aos membros da equipa sobre a importância da conservação, a biologia das tartarugas e a recolha de dados.
No que toca à realocação dos ninhos para os viveiros, explica Jesus, são transferidos apenas os ninhos originalmente situados na frente dos hotéis e que, consequentemente, estão sujeitos a poluição luminosa. “Caso esses ninhos não sejam realocados, quando as tartaruguinhas nascerem vão caminhar em direção à luz e ser facilmente predadas por cães, gatos, caranguejos, ou podem ficar perdidas e acabam por morrer devido a longa exposição ao sol durante o dia”, explica o colaborador da FT.
Airton revela que as tartarugas são protegidas pelos guardas ambientais que patrulham as praias diariamente e por uma equipa de cães e drones, cujo objetivo principal é detetar casos de apanha. “Atualmente, um total de cerca de 30 km de praias de nidificação são monitoradas diretamente pelas equipas da Fundação Tartaruga. São nove praias de nidificação da tartaruga cabeçuda ou áreas de praia associadas”, refere Airton Jesus.
O gerente do trabalho de campo da FT explica também que, neste momento, 21 pessoas trabalham permanentemente na fundação. Entretanto, durante a época de desova de tartarugas, contratam mais colaboradores, aproximadamente 50, para trabalharem nos acampamentos. A estes juntam-se habitualmente muitos voluntários internacionais, que chegam à Boa Vista com um único propósito, participar no projeto.
Métodos alternativos e mais envolvimento da população
A Fundação Tartaruga quer, entretanto, ir mais longe na conservação de tartarugas. Por isso, em 2018, lançou um projeto que visa implementar métodos alternativos de conservação na ilha da Boa Vista e reduzir ainda mais a caça furtiva, que inclui uso de cães de proteção e modernas tecnologias de visão noturna (drones e binóculos com tecnologia de imagem térmica). “Isso melhorou a eficiência das patrulhas, bem como permitiu a redução do tamanho das patrulhas de praia, antes eram densas e caras. A equipa de cães e drones está agora a patrulhar 66 quilómetros de praia em cinco áreas protegidas na ilha da Boa Vista”, explica Airton Jesus.
A FT criou ainda projetos voltados para a população, visando aumentar a sua consciencialização sobre a conservação do meio ambiente, nomeadamente cursos gratuitos de natação, incluindo elementos lúdicos de educação ambiental marinha, e limpezas regulares de praias. O destaque vai, entretanto, para a criação de um centro local de reutilização, onde, a partir de tampas de plástico de garrafas, fabrica-se artigos úteis.
Ainda a pensar na população, a Fundação uniu forças com outras ONG para consciencializar certas franjas da população sobre a importância da proteção das tartarugas marinhas e, simultaneamente, ajudá-las a conseguir uma renda. É o caso da Cooperativa TAMBRA e do Atelier Tarafes.
A Fundação Tartaruga iniciou o seu projeto de conservação na Boa Vista em 2008. Mas ainda há um longo caminho a percorrer até que as tartarugas possam nidificar com segurança nas praias da Boa Vista e a população de tartarugas seja recuperada. Por isso, a FT mantém-se empenhada cada vez mais na execução de programas que visam garantir a sustentabilidade do seu projeto de conservação.