“Do que até agora o Governo e o Estado de Timor-Leste têm avaliado, Timor-Leste tem todas as condições para dizer que só o gasoduto para Timor-Leste é que tem ótimas condições para o país. Agora temos a Woodside e o consórcio a considerar que Timor-Leste tem as condições para ter esse gasoduto”, afirmou Victor Soares em declarações à Lusa.
“Temos condições e já fizemos estudos e preparativos para trazer o gasoduto para Timor-Leste e para o desenvolvimento da costa sul, com viabilidade económica e comercial. Acreditamos que vamos conseguir convencer o consórcio”, sublinhou.
Victor Soares reagia depois do consórcio do projeto do Greater Sunrise, no Mar de Timor, anunciar que vai comparar as opções de um gasoduto para Timor-Leste ou para a Austrália e identificar o mais benéfico para os timorenses.
“Os estudos incluirão a avaliação de qual opção proporciona o benefício mais significativo para o povo de Timor-Leste. O consórcio tem como objetivo completar o programa de seleção de conceito rapidamente, dado os benefícios que poderiam fluir do desenvolvimento dos campos Sunrise”, referiu o comunicado.
A nota de imprensa, enviada à Lusa, surge depois de uma nova ronda de diálogo das três empresas que integram o consórcio do Greater Sunrise, a timorense TIMOR GAP (56,56%), a operadora Woodside Energy (33,44%) e a Osaka Gas Australia (10%).
Esta declaração foi a primeira vez que as três empresas admitem em conjunto a possibilidade do gasoduto ir para Timor-Leste, sendo que até aqui a Woodside se tem mostrado contra essa opção, defendendo a de um gasoduto para Darwin.
Questionado sobre se Timor-Leste aceitaria um eventual resultado do estudo se este indicasse que a opção de Darwin era a melhor para o país, Soares admitiu que era “uma pergunta difícil”, remetendo para a TIMOR GAP comentar.
Escusou-se igualmente a avançar detalhes sobre os custos do investimento para Timor-Leste, insistindo, porém, que politicamente, o executivo não quer usar o Fundo Petrolífero para financiar o projeto.
“Sobre o capital de investimento, cabe às empresas e ao consórcio definir. A posição do Governo é de que não vamos investir ou usar o Fundo Petrolífero na questão do Greater Sunrise. Tem que ser definido tecnicamente, comercialmente e economicamente, e recorrer-se a instituições financeiras de acordo com boas práticas do setor petrolífero”, disse.
Victor Soares disse que, paralelamente à questão do conceito de desenvolvimento, é “crucial concluir com o Governo australiano e o consórcio o enquadramento legal do projeto”, incluindo regime especial, contrato de partilha de produção e outros documentos.
O processo deveria ter sido concluído no final de 2022, mas não foi possível por “disputas e desentendimentos internos no consórcio”, sendo agora necessário “um grande esforço” para chegar a um entendimento.
Soares disse que “não foi nada fácil chegar até aqui” e que o anúncio é resultado de “muitos avanços” feitos pela atual equipa do setor nos últimos dois anos e que conseguiram “um avanço que não tinha sido alcançado antes”.
No mesmo contexto, o responsável refutou críticas do antigo presidente Xanana Gusmão, que disse recentemente que “os atuais responsáveis destas áreas são simplesmente pessoas ignorantes e que não mereciam estar à frente de tarefas tão importantes para o país”.
“Tenho todo o respeito por um líder como Xanana Gusmão, um líder da resistência, um guerrilheiro. Mas subestimar os jovens, profissionais que se educaram, formaram nesta área não é correto”, afirmou Victor Soares.
“Cada vez que subestima esses jovens, tenho menos respeito ao nosso líder. Não consegue valorizar os jovens, promover os jovens, os futuros líderes do setor. Como é possível uma pessoa que nunca se formou na área, é quem tem mais capacidade, que mais sabe, e quem se formou nesse setor, ao longo da sua vida, é ignorante? Estes comentários não são verdade, nem prudentes, nem honestos”, afirmou.
Numa nota que acompanha o comunicado oficial conjunto, divulgada nas redes sociais, a TIMOR GAP saúda o acordo depois de “mais de 20 anos de discussões sobre o campo de gás condensado do Greater Sunrise”.
“Tal deve-se à divergência de opiniões entre o Governo da República Democrática de Timor-Leste (RDTL) e da Austrália, assim como entre a operadora Woodside e a TIMOR GAP relativamente ao conceito de desenvolvimento e à rota do gasoduto que transportará o gás proveniente do Sunrise”, sublinha.
Neste contexto, a petrolífera timorense considera que o atual Governo, e a equipa de negociações da TIMOR GAP “conseguiu superar estes desafios e obstáculos enfrentados durante o processo de negociação com os parceiros da Sunrise Joint Venture” (SJV).
A TIMOR GAP explica que o consórcio vai selecionar “uma empresa de consultoria independente conceituada e especializada na área, para proceder à realização do estudo de seleção do conceito de desenvolvimento”, que se prevê esteja concluído num prazo máximo de seis meses.
“Os resultados deste estudo proporcionarão à SJV uma fonte credível de informação que permitirá selecionar o conceito de desenvolvimento do campo de gás e condensado do Greater Sunrise, com especial foco em trazer o gasoduto para a Timor-Leste e desenvolver a Fábrica de Gás Natural Liquefeito (GNL) em Timor-Leste”, refere.
A Semana com Lusa