Vários trabalhadores, de diferentes sectores, que pediram para não serem identificados, com medo de represálias, contaram à Inforpress que o clima laboral no Grupo Meliã, quer no Tortuga, Llana ou Dunas, é “uma afronta”, porque à base de desconfiança, como se as pessoas que ali trabalham fossem ladrões.
Contam que, actualmente, os trabalhadores são proibidos de entrar com suas bolsas/malas de senhoras, mormente mochilas, sendo revistados à saída, como “miseráveis, inspeccionados os bolsos, que ficam como orelhas para fora… procurando não sei o quê”, denunciam indignados com a situação.
Além disso, queixam-se ainda do atraso no pagamento dos salários, que normalmente ocorre, conforme referem, no dia 08 de cada mês, e do “incumprimento com a segurança social”, ficando desprotegidos a nível da assistência médica e medicamentosa.
“Temos responsabilidades e os nossos compromissos, com renda de casa, mensalidade do jardim onde os nossos filhos ficam para podermos ir trabalhar, entre outras obrigações”, desabafa uma das trabalhadoras, que pede para não ser identificada, com medo de ser despedida.
“Precisamos trabalhar, mas trabalhar com dignidade. Não somos animais. A mão de obra dos cabo-verdianos é importante nas cadeias hoteleiras. O serviço de qualidade apresentado, oferecido, deve-se muito ao nosso trabalho”, completou outra colega, acrescentando que muitas vezes ficam com fome no trabalho, porque não podem levar merenda nem água.
“A hora do almoço vai das 11:30 até 15:00, mas se faço a chegada de meio dia às 14:30, quando chego no refeitório não encontro comida em condições. Os que foram primeiro servem-se melhor (…) e os outros ficam. No hotel, o bebedouro fica às vezes três dias sem água, ficamos com sede no trabalho porque não podemos levar a nossa água. Isso não é digno”, desabafou.
Os trabalhadores dessa cadeia entendem que Cabo Verde é um País pobre, mas tem dignidade, pelo que pedem a intervenção das autoridades e do Governo no sentido de os empregadores terem melhor “consideração e respeito” pelos cabo-verdianos.
“O grupo de trabalhadores recepcionistas, cozinheiros, animadores, barmans, auxiliares da cozinha, segurança, entre outras categorias profissionais, é que permite qualidade do serviço nos hotéis”, reiteraram uns e outros, admitindo, entretanto, que todos falam das suas inquietações e indignação nos corredores, mas na reunião com os responsáveis “ninguém abre a boca por medo”.
A Inforpress tentou ouvir a direcção da empresa para a confrontar com as denúncias, mas sem sucesso.
A Semana com Inforpress