Neste derradeiro 16 de julho do passamento em Paris da londrina Jane aos 76 anos, traz-se à tona o paradoxo logo ns primeiros versos Je t’aime/Moi non plus.
A incorreção gramatical sublinha o paradoxo. A réplica ao Je t’aime... Amo-te é um Moi non plus...Mas eu não, a sugerir, a evocar que o amor físico não tem saída. Essa é uma constatação que só o homem vivido pode atingir, depreende-se da réplica dele que derruba a declaração amorosa da jovem.
Ao longo de mais de meio século, o Je t’aime/Moi non plus suscitou muitas reações, a começar pelo interdito do Vaticano, em 25.8.69, que levou as rádios italianas a boicotarem a sua difusão. O mesmo na Suécia e na Holanda. Nesse ardente agosto, o jornal Il Giornale d’Italia arrasava o conteúdo: "No espaço de três ou quatro minutos, Gainsbourg e Jane Birkin emitem tantos suspiros, gemidos e bramidos quantos os de uma manada de elefantes".
A história da discografia regista que essa classificação de obscena dada à canção foi "incontestavelmente" o "melhor ato publicitário". Um escândalo e um sucesso comercial.
Em 2019 uma septuagenária Jane relembrou a jovem britânica desembarcada em Paris para se tornar sex-symbol no imediato pós-Maio de 68 e mostrou-se perplexa reavaliando-se à luz do movimento #Me Too.
"Hoje não saberia falar do meu tempo. Eu era menos livre que as meninas do meu tempo. Eu estava no sétimo céu por ter impressionado um homem como o Serge, de ser o seu objeto de desejo, a pessoa que o inspirava".
"Enfim, eu era o objeto e encantada por o ser. É verdade: eu hoje não sei o que faria com isso". Disse-o a Jane Birkin há quatro anos e hoje repete-se nas páginas do Le Monde.