"O presidente abusou do seu poder para expulsar uma pessoa que lhe é inconveniente. Expulsou-me de Kusatsu e agora tenta destruir a minha vida", disse Shoko Arai na conferência de imprensa de anteontem, em Tóquio.
A vereadora em Kusatsu, Prefeitura de Gunma, foi demitida após acusar o Edil de a ter violado. Oradora numa conferência em Tóquio, nesta sexta-feira, 18, a política chamou a atenção dos japoneses para a violência contra as mulheres também na esfera política.
A vereadora Shoko Arai, que era a única mulher entre os 12 membros da de Kusatsu-Gunma, foi no dia 06 deste mês expulsa por referendo quase unânime. Motivo: ela publicou em novembro um livro, em edição digital, a acusar o Edil Nobutada Kuroiwa (foto inserta) de a ter forçado a uma relação sexual no seu gabinete em 2015.
O presidente Kuroiwa, que negou o crime e afirmou que tinha sido "sexo consensual", contou com o apoio dos demais membros da câmara — todos do sexo masculino, a acompanhar a tendência, segundo estudos de que a nível local e regional o eleitorado é constituído maioritariamente pelos chefes de família, do sexo masculino.
Seguiu-se a coleta de assinaturas junto dos munícipes, com o argumento de que a atuação da vereadora prejudicou a reputação da cidade, que tem no turismo termal uma das suas principais atividades económicas.
Poder económico inseparável do poder municipal
O eleitorado votou quase unanimemente (2.542 vs. 208) pela expulsão da vereadora, que explica o facto assim: "Kusatsu é uma cidade pequena onde todos se conhecem. Por isso, todos sabem quem assinou e quem não assinou a petição, quem votou e como (no referendo)".
Prosseguiu: "Todos sentem que estão a ser observados. A maior parte dos habitantes trabalha nos empreendimentos termais e hotéis e, na sua maior parte, os donos são precisamente os eleitos municipais", denunciou a política Shoko Arai no FCCJ, fórum que teve lugar na semana passada em Tóquio.
Na segunda-feira, 14, o Edil acusado participou no FCCJ e reiterou que "foi tudo consensual" e que a acusação de que houve agressão é 100% fabricada".
Japão na cauda do ranking de equidade
O slogan "Japão, uma sociedade onde a mulher brilha" — com o qual Abe pretendeu mostrar ao mundo que as japonesas estão em lugares de liderança — não corresponde à realidade. Nem sob a liderança de Abe nem sob Suga que o substituiu (Japão: Primeiro-ministro [Abe] demite-se "por motivos de saúde", 29.ago.020), analisam os politólogos.
Entre os 20 ministros do governo de Suga constam apenas duas ministras. A mesma percentagem, 10% em média, que conta a representação femininana Dieta japonesa, mas a nível local a percentagem não passa em média de 5%. Na liderança económica, a representação feminina é de 15%.
No G7, o Japão é o pior colocado no indicador "Equidade de género" ao classificar-se como o 112º entre 153 países e piora no indicador "Empoderamento da mulher" onde está em 144º lugar, segundo o último relatório do WEF-Fórum Económico Mundial, sediado na Suiça.
"O progresso na equidade é o pior entre as economias mais avançadas do mundo e aprofundou-se em 2019", lê-se no relatório da organização. Os melhores colocados no ranking são países escandinavos — Islândia, Noruega, Finlândia, Suécia no top-6, que inclui a Nicarágua, país da América Latina, e a Nova-Zelândia. Seguem-se quatro do G7: a Alemanha (10º), França (15º), o Canadá (19º), Reino Unido (21º).
Fontes: Japan Times/AP/... Relacionado: . Fotos (Kiodo/AP): A política Shoko Arai, que denunciou o presidente municipal Nobutada Kuroiwa, é oradora numa conferência em Tóquio, nesta sexta-feira, 18, com o objetivo de chamar a atenção dos japoneses para a violência contra as mulheres também na esfera política.