Em declarações à imprensa, no âmbito do Dia Internacional da Paralisia Cerebral, Kledir Santos, jovem de 24 anos e morador em Achada Limpo, falou da sua vida e afirmou que o que tem feito é estar “sentado em casa” já que as promessas feitas “nunca são cumpridas”.
“Os políticos de Cabo Verde lembram da nossa existência nessas datas e esqueçam que vivemos o dia-a-dia como os outros e queremos participar, enquanto cidadãos, usando o nosso direito para passear, aprender e conhecer outras pessoas”, disse, sustentando “estar farto de estar em casa fechado”.
Aos políticos pede que cumpram o que está explanado na Constituição da República, com “apoios reais e não enganos”, já que também são humanos e “sentem na pele todas as discriminações”.
Pede apoio formativo para trabalhar e ser útil para a sociedade cabo-verdiana e não depender dos cinco mil escudos que a mãe recebe do Estado, solicita também transporte que ajude as pessoas com paralisia cerebral a se deslocarem à sede da Associação Acarinhar para conviver e aprender.
Rosiane Rocha, 31 anos, por seu lado, que vive na Vila Vitória (Praia) e comunica através do seu telemóvel em Bluetooth, diz ter como sonho ser pintora, arte que, segundo disse, tem aprendido em casa, pois nunca teve possibilidades de frequentar uma escola.
“Sinto-me feliz quando estou na Associação Acarinhar com os meus colegas e amigos, mas nem sempre posso me deslocar por não haver uma viatura para isso”, explica a jovem, que diz passar a maior parte do tempo sozinha em casa, visto que a mãe trabalha.
Leizy Semedo, dos Picos, Achada Leitão, e que este ano vai iniciar a sua licenciatura na área de Ciências de Educação, na Universidade de Cabo Verde, afirmou que o seu maior desafio tem sido a discriminação e dificuldade de estabelecer amizades com jovens colegas “ditos normais” por estes pensarem que por causa do seu problema “não seja capaz de nada”.
A jovem que diz sempre ter estado integrada na escola e com boas notas, explica ainda que sempre fez tudo o que queria e que muitas pessoas admiram isso nela, mas para conseguir sempre esteve sozinha para elaborar os trabalhos exigidos pelos professores.
O seu sonho era ser cantora, daí a sua paixão por Élida Almeida, mas não conseguiu vencer esta paixão, pelo que decidiu formar-se em Ciências de Educação para ajudar os outros.
Face às discriminações a que sempre esteve exposta, Leizy Semedo apela às pessoas a não seguirem por este caminho, pois, as pessoas com deficiência vivem “exatamente como as que não possuem nada” e são “capazes de vencer os seus sonhos”.
Estes jovens, que hoje assinalaram o Dia Mundial da Paralisia Cerebral, aproveitaram o dia para lembrar o Governo que também são humanos e fazem parte desta sociedade, pelo que exigem melhores condições de vida para estudar e exercer a sua cidadania.
A Semana com Inforpress