O autarca teme o surgimento de epidemias devido ao grande número de vítimas que — levadas para o mar pelas cheias — começam a dar à costa.
"Precisamos de sacos para acondicionar os cadáveres que estão a ser recolhidos. Precisamos de apoio de especialistas em epidemias", apelou o autarca através da emissora saudita.
Egipto, Tunísia, Emirados, Turquia, Qatar destacam-se entre os que já chegaram à Líbia. A ajuda estrangeira inclui ainda o MSF-Médicos sem Fronteiras que entregou kits médicos ao Crescente Vermelho enquanto aguarda condições nos acessos a Derna para se deslocar de Tobrouk, onde aterrou ontem (quarta-feira).
A Itália e a França enviaram hospitais de campanha que são esperados em Derna nos próximos dias, assim que as condições das estradas pela costa o permitam.
O balanço das mortes ao 5º dia aponta para entre dezoito mil e vinte mil vítimas da violência da chuva, que "como um tsunami" destruiu duas barragens que servem a cidade de Derna.
A destruição trazida pela tempestade Daniel ao leste líbio torna-se uma catástrofe devido às infraestruturas degradadas desde 2011 no país dividido entre um governo reconhecido e outro rebelde.
A cidade de cem mil habitantes está debaixo de água, quatro pontes caíram sob a violência das duas barragens a irromperem. Nesta quinta-feira a estimativa de mortes quadruplicou, comparativamente ao número de vítimas atualizado no final de terça-feira pelo Crescente Vermelho, a Cruz Vermelha do Magrebe.
"Parece um tsunami. Casas foram levadas pelas águas com os habitantes dentro durante a noite. Uma tragédia sem igual!", disse à BBC o ministro Hisham Chkiouat, do governo de Unidade da Líbia, com sede na capital, Trípoli. "Tudo por falta de trabalho de manutenção das pontes e barragens", acrescentou.
Outras cidades debaixo de água são Benghazi — sede da administração liderada pela Câmara dos Representantes —, Soussa e Al-Marj, todas na região leste da Líbia.
Líbia dividida
Na Líbia dividida e entregue a lutas entre fações opositoras desde a deposição de Kadhafi, reconhece-se que a tempestade só atingiu dimensão catastrófica devido ao estado das infraestruturas deixadas sem manutenção.
A administração no oeste do país, liderada pelo primeiro-ministro Abdul Hamid Dbeibah, sediada em Trípoli, é a única reconhecida pela comunidade internacional.
Com as autoridades do Leste a necessitar de ajuda e o banco central do país a só reconhecer o governo em Trípoli as duas partes têm de pôr de lado as diferenças políticas e militares.
O governo sediado em Trípoli afirmou, esta terça-feira, que utilizará os recursos à sua disposição para ajudar as áreas afetadas. Mas a gestão do montante a atribuir a cada um dos dois governos, a forma como o dinheiro será gasto e quem será responsável pela supervisão da despesa prometem complicar a cooperação interna na recuperação destas inundações.
Tempestade Daniel fez incêndios na Grécia, inundações no Magrebe
O ciclone subtropical mediterrânico atingiu o sudeste da Europa e o Magrebe desde a 1ª semana de setembro, causando milhares de mortes.
Fontes: Al-Jazeera/Le Monde/RFI/Times of India/RR.pt/RTBF.be. Relacionado: Líbia-3º dia de inundações: Mais de 5000 mortes e 10000 desaparecidos, 12.set.023. Fotos (AFP/Reuters...): Chuvas torrenciais fizeram transbordar barragens, vitimando uma grande parte dos habitantes da cidade mais tocada, Derna.