“Foi com muita emoção e muitas interrogações, porque eu não sabia porquê, mas é gratificante ser reconhecida pelo trabalho feito e realizado e ver que as pessoas resolveram reconhecer todo esse trabalho e eu fiquei grata”, afirmou à Lusa a bancária reformada, moradora na zona de Alto Miramar, na casa onde o grupo nasceu, na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, em 1988.
Numa zona que sempre realizou bailes de Carnaval, o “bichinho” começou a crescer-lhe nas veias desde miúda, mas a ideia inicial, contou, foi criar um grupo infantil, para lançar as sementes e as raízes para que esta festa continuasse e crescer.
“Depois de alguns anos terminamos com as crianças porque as sementes já estavam lançadas e as raízes já estavam bem firmes no chão, e então passamos para os adultos que já não estavam a brincar o Carnaval em São Vicente à noite ou em grandes bailes”, recordou Morazzo, de 72 anos, indicando que foi a partir daí que foi uma das fundadoras do grupo de Samba Tropical, precisamente numa segunda-feira à noite.
Sem participação nos concursos de terça-feira, o grupo começou a desfilar na noite de segunda-feira, tradição que mantém até hoje, e este ano vai homenagear esta fundadora, entusiasta e amante de uma festa que fala com muita alegria.
Mesmo com algumas dores nos joelhos, Luíza Morazzo promete ser dos primeiros a descer ao sambódromo do Mindelo. “Mas para o Carnaval isso tem de passar porque temos é de festejar de alegria, que está dentro da alma”.
E a alguns dias para o desfile, já imagina como é que vai ser. “Acho que vou ficar um bocado emocionada, mas como gosto do Carnaval, depois meto-me na folia e aquilo tudo vai passando”, perspetivou.
A homenagem chega depois de dois anos sem folia por causa da pandemia de covid-19. “Vivemos um sufoco”, recordou a fundadora, considerando que por causa disso os foliões vão dar um “grito da liberdade em forma de arte”.
“As pessoas têm de sair à rua, saltar, pular, dançar, com respeito, amor ao próximo, para que a gente possa viver felizes esses dias, porque é muita alegria e muita emoção”, convidou, pedindo, igualmente, a valorização do Carnaval, que considera ser um dos postais turísticos da ilha e de Cabo Verde.
“Temos que ter sucesso este ano e para os anos vindouros e que todos os grupos saiam a ganhar e com o enriquecimento do Carnaval nesta ilha que tanto amamos”, continuou a homenageada, que considera que a manifestação cultural já deu “grandes passos”, mas ainda enfrenta “dores de crescimento”.
“Porque há momentos em que sentimos que já demos um grande salto, mas há outros momentos em que há muita dificuldade, muitas coisas para melhorar, como espaços para os ensaios, espaços para confeção dos carros alegóricos, mas estamos num bom caminho e o percurso está a ser bem feito”, apontou esta entusiasta da principal festa do Carnaval de Cabo Verde.
Quanto ao futuro do grupo, a fundadora não tem dúvidas que será promissor: “Porque há muitos jovens que vieram desde pequeninos, alguns já são pais e até avós, por isso eu acho que as sementes foram lançadas. É um sacrifício e é duro, mas as pessoas têm de continuar a trabalhar”, pediu.
Além do Samba Tropical, que desfila na segunda-feira à noite, mas que não participa no concurso, os outros grupos oficiais que vão a concurso são Flores do Mindelo, Estrela do Mar, Cruzeiro do Norte e Monte Sossego.
Este ano, outra novidade é que os desfiles na terça-feira, 21, vão arrancar às 18:30 locais (mais uma hora em Lisboa), ao contrário do início da tarde, conforme determinaram os grupos e a Câmara Municipal.
Esta decisão está a dividir opiniões em São Vicente, com muitas pessoas a considerar que esta hora vai afastar muitos que vivem longe da cidade, bem como crianças e idosos, e pedem a alteração, visto estar previsto o final das apresentações a altas horas da noite.
A Semana com Lusa