“No Antigo Testamento a Bíblia fala da comunidade religiosa e ensina que as pessoas devem contribuir para a sobrevivência dos Levitas, a tribo que não recebeu herança de terreno por se dedicar ao culto e animação do povo de Deus, mas que precisam de bens materiais para viverem”, explica o Cardeal D.Arlindo Furtado, numa declaração à Inforpress , a propósito das intervenções do Papa Francisco na Jornada Mundial dos Jovens (JMJ) quanto a prática de pagamento das intenções.

Citando a Bíblia, o Bispo de Santiago referiu ainda que o Novo Testamento não faz recomendação sobre nenhuma obrigação sobre a décima parte do rendimento, mas sim de uma contribuição dos fiéis para a vida dos que se dedicam plenamente ao evangelho e para as actividades missionárias.

Neste particular, realça que a conferência episcopal, em cada Nação, se organiza “neste sentido” e indica países como Alemanha e outros em que os fiéis fazem o seu desconto para o Estado, segundo a sua indicação, e que depois é distribuído ao grupo religioso a que pertencem.

“Em outros países temos a contribuição voluntária que é feita nas celebrações dominicais e por ocasião de prestação de certos serviços: casamento, baptismo e outros. Temos também o sustento das missas que desde os anos 90 na Europa, em certos países, já eram 10 euros e outras dioceses em que cada um dá o que poder”, disse.

Em Cabo Verde a última actualização, asseverou, aconteceu em 1982, em que por cada intenção se pede o valor de 400 escudos.

Lembra também que outras Igrejas, que não sejam católicas, funcionam com a cobrança do dízimo não só do salário, mas de todas as entradas colaterais que possam existir e seja paga.

“O Papa falou e insiste que a Igreja deve ser pobre e humilde e que não deve dar prioridade de forma alguma a entrada de bens materiais e que seja desprendida. Quanto ao resto o Espírito Santo providenciará a forma de a Igreja cumprir o seu papel e sobreviver na sua disponibilidade pobre e humilde para o serviço que Deus providencia para além do que possamos organizar”, observou.

Sublinhou ainda que na Igreja ninguém é excluído caso não possa pagar a missa de intenção, e informou que aos domingos e dias Santos de festas é obrigatório que os padres e bispos celebrem livremente para as intenções da comunidade.

Quanto à intervenção do pontífice no sentido de que a Igreja é para todos, D. Arlindo Furtado afirmou que existem vários ângulos em que esta intenção pode ser dita, lembrando que tudo isto está escrito na parábola do Jesus Cristo no banquete oficial.

Para falar desta intenção, o Bispo de Santiago exemplificou com a festa de um rei que organizou o banquete para os seus filhos, mandou convites e ninguém apareceu, tendo depois enviados os seus servos a levar todas as pessoas até que a sala estivesse cheia.

“Tudo ficou maravilhoso, mas o Rei quando se apresentou começou por interrogar alguns que não estavam adequadamente vestidos e perguntou: amigo porque viestes? É o convite é para todos, mas não podemos ser tão ingênuos para ver que no meio de todos, todos têm de ser pleno menos bem-intencionados”, explicou, lembrando que a JMJ é também para todos, mas que poderiam estar entre eles pessoas mal-intencionadas.

Alerta, no entanto, que não cabe à Igreja identificar quem está bem-intencionado ou mal-intencionado.

Defende que a Igreja é para todos e que todos os religiosos estão de acordo com os desafios propalados pelo Papa. A Semana com Inforpress