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"Mau sangue", a fraude eletrónica de $1 bn: Elizabeth Holmes escapa de ser presa por um triz 30 Abril 2023

Dia 27 a condenada devia dar entrada na cadeia para cumprir a pena de mais de onze anos de prisão, pela fraude maciça online que atingiu o montante de um bilião de dólares. Mas o tribunal deferiu o pedido e Elizabeth Holmes continua em liberdade para cuidar do seu segundo filho recém-nascido.

Oito anos depois da denúncia do "mau sangue", a Elizabeth Holmes embora condenada entra livre em 2023 — beneficia (por entre adiamentos devidos à Covid-19, recursos e manobras dilatórias diversas) de mais um dos sucessivos apelos judiciais que a têm mantido longe da cadeia.

"A Steve Jobs" fundadora da Theranos foi primeiro condenada a 20 anos de prisão por fraude e assocação criminosa. Um ano depois, em novo apelo, Elizabeth Holmes, teve a pena reduzida a mais de onze anos de cadeia, em novembro transato.

Será alguma vez presa?, pergunta-se. Os especialistas em ciber-fraudes pedem também responsabilização dos pesos-pesados da política e negócios que permitiram essa fraude maciça ao darem o seu apoio à biotecnológica Theranos.

Analistas dos principais media financeiros têm vindo a defender que a fraude maciça online, que vitimou milhares de pessoas, tem mais responsáveis que "a mais jovem bilionária da Forbes". Também os que a apoiaram — desde Henry Kissinger, Hillary Clinton, George Shultz, ou Betsy DeVos, entre outros nomes sonantes da política e dos negócios — deviam enfrentar a justiça.

Recorde-se a meteórica ascensão desta "Steve Jobs no feminino" — que em 2014, aos 30 anos, é avaliada em nove ’biliões’ de dólares e se torna a primeira bilionária da biotecnologia, com entrada no ’Board Members’ da Harvard— só se compara à sua fulminante queda em 2016.

Em 2003, aos 19 anos, Elizabeth Holmes funda a empresa biotecnológica Theranos que oferecia "serviços que estão a revolucionar os testes de sangue" para "detetar desde o colesterol ao cancro".

O "segredo alma do negócio" envolveu os primeiros anos da atividade, que pela sua natureza — questões de sangue, confidencialidade do historial clínico — combinava bem com a discrição que os financiadores preferem.

Dica anónima

O anónimo whistleblower (denunciante) deixou de o ser. Recentemente foi revelado que a fonte que levou à investigação jornalística foi o jovem Tyler Shultz, neto do mais influente membro da direção da Theranos, o então octogenário George Shultz que foi entre outros cargos proeminentes secretário de Estado do Tesouro na presidência de Reagan.

Segundo se veio a desvendar depois, Tyler Shultz, ao fim de oito meses de trabalho na Theranos Inc., gritou "já chega!" e dirigiu um email datado de 11.4.2014 à CEO Elizabeth Holmes a expor a sua descoberta de que "a Theranos tem estado a manipular a pesquisa científica e tem ignorado os alertas de controlo de qualidade".

A investigação jornalística de John Carreyrou, do Wall Street Journal, permitiu chegar a milhares de pessoas que tinham sido defraudadas com os serviços online de testes de sangue.

Percurso de Elizabeth Holmes

Em 2014 valia nove milhões e a Forbes pô-la no topo das bilionárias. Mas na reavaliação em 2015 foi a própria Forbes a concluir que a bilionária da edição anterior, contas feitas e pagas as tranches dos investidores, valia afinal… menos que zero, devido ao montante elevado de débitos que ascendiam aos 400 milhões de dólares.

Em 2018, a empreendedora é acusada de fraude, num montante que ascende a ’biliões’ de dólares (milhares de milhões de contos), segundo a PGR de San Francisco, Califórnia.

Do alto despencou a adolescente prodígio que, ainda no liceu, averbava no currículo desde a formação em computação e aulas de mandarim ao domicílio à programação de computadores. Seguiu-se o sucesso como empreendedora na venda de patentes da área da biotecnologia a empresas e universidades chinesas.

O percurso académico de Elizabeth Holmes regista, só, a frequência do 1º ano de Engenharia Química na universidade de Stanford. Mas abriu-lhe portas para estágios na área, tanto no país como em Singapura em 2003. A experiência serviu-lhe para criar a sua primeira patente de testes de sangue.

O sucesso fê-la desistir do curso para criar a empresa Real-Time Cures que pouco depois renomeou Theranos, juntando "terapia" e "diagnóstico".

Influentes abrem portas para investidores. Holmes entrou no círculo de personalidades como Henry Kissinger, Hillary Clinton, George Shultz, ou Betsy DeVos. A sua lista de pessoas influentes ajudou "a jovem prodígio" a atrair investidores.

O secretismo do negócio durou mais de dez anos, aparentemente o tempo da sua ligação sentimental, de 2003 a 2016, com o empresário hindu Ramesh ’Sunny’ Balwani. A relação do casal foi mantida secreta "para não interferir com a percepção dos investidores", disse em tribunal o imigrante de ascendência indiana nascido no Paquistão. Sunny aos 40 anos divorciou-se da esposa japonesa para casar com a jovem americana de 19 anos.

O secretismo envolvia também os investidores da Theranos: capitalistas das tecnológicas como Tim Draper, o magnata dos media Rupert Murdoch, a futura ministra da educação, Betsy De Vos, figuras da política e dos negócios.

Nova vida com William Evans, de 25 anos em 2019, mas, segundo o jornalista Carreyrou, o pedido de casamento fez-se com o anel de curso sem valor comercial. Sem o tradicional anel de diamantes — com um valor potencial de um milhão de dólares, de acordo com o estatuto do noivo, que é herdeiro dum império hoteleiro, o Evans Hotels Group sediado na Califórnia.

A ex-bilionária (instantânea) tem os bens confiscados para ressarcir os lesados, "que se contam aos milhares".

Fontes: WSJ/Bloomberg/.

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