Formada em medicina e especializada em oftalmologia cirúrgica numa universidade da Itália, a congolesa Cécile Kyenge viu frustrada a sua intenção de exercer, por razões administrativas.
Virou-se para a política, decidida a ser agente da mudança, como afirmou em 2004. Tinha 39 anos quando foi eleita vereadora no município de Modena, pelo Partido Democrata de Esquerda.
Em abril de 2013 foi eleita ministra da Integração no governo de Enrico Latta, do Partido Democrata de Esquerda. Cécile integrou, pois, o governo que se tornou histórico por mais que um motivo, já que pela primeira vez um governo italiano incluía sete mulheres entre os 22 ministros.
Cécile afirmou que ia "lutar contra todas as violências", desde as de cariz "sexista, racista, ou homófoba" no país onde passou a residir.
Em 2014, foi eleita para o parlamento europeu. Prometeu que ia denunciar a inação dos Estados confrontados com o abandono e a morte dos migrantes nas travessias do Mediterrâneo.
Marido candidato pela extrema-direita
Em 2019, Cécile Kyenge pedia respeito pela sua vida privada aos media que noticiavam que o fim do seu casamento — desde 1994, com Domenico Grispino, pai das suas duas filhas, Giulia (que segue as pisadas da mãe na política) e Maisha — tinha na base "um outro homem".
O político Grispino tinha-se enfileirado na Liga, o partido de Salvini xenófobo. O contrário do que Cécile defendeu durante duas décadas.
Sobre essa posição política do marido, Cécile Kyenge emitiu em comunicado de imprensa que se "[se]nt[e] no dever de responder aos amigos e amigas, entes queridos , apoiantes e jornalistas", "relativamente à candidatura anunciada do [s]eu marido no partido Liga/Lega".
Nesse sentido, a eurodeputada considera que Grispino "tem o direito de candidar-se como deseja", de acordo "com a liberdade que é garantida pela Constituição italiana. Diz compreender "o espanto de muitos, não só de entre os apoiantes" dela mas também "dos militantes da mesma Liga/Lega", mas que "isso já não é relevante" para ela.
Cécile remata que para ela esse "é o ’enésimo’ e talvez o último episódio da vida em comum".
Condenação do ministro Calderoli
Dez anos depois da "difamação agravada de cariz racial", proferida em 13 de julho de 2013, o ministro Roberto Calderoli foi condenado a sete meses de pena suspensa.
O tribunal de Bérgamo deu por provado que o epíteto "Orangotango", com que o então parlamentar da direita insultou Cécile, contém "difamação agravada de cariz racial".
Fontes: RAI TV/Corriere della Sera/ La Stampa/...