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Micro-empresa Ekonatura já envolve maioria das famílias de São Francisco em acções de reciclagem 22 Setembro 2023

A micro-empresa comunitária Ekonatura conseguiu sensibilizar e envolver cerca de 80 % das famílias da comunidade de São Francisco no processo de reciclagem, mudando assim o estilo de vida e a forma de pensar.

Micro-empresa Ekonatura já envolve maioria das famílias de São Francisco em acções de reciclagem

No âmbito do Projecto Terra África, a Inforpress efectuou uma visita ao espaço de transformação de plástico e vidro, para conhecer a história de algumas mulheres que trabalham directamente no processo de transformação e colocam os produtos à venda, para assim terem alguma gratificação.

Paula Mendes é uma das mulheres envolvidas neste projecto, que visa transformar o vidro e o plástico em outros produtos utilizáveis, e quem também trabalha no processo de sensibilização e na questão da educação ambiental, um trabalho que, segundo a mesma, dá os seus frutos ao longo do tempo, visível com a procura e as parcerias que têm feito, mas também das acções dos moradores locais.

Segundo a mesma fonte, como maioria das mulheres na localidade, os primeiros passos para o mundo laboral iniciaram-se no mar com a apanha de areia, mas depois como a situação ficou cada vez mais difícil, começaram a procurar outras alternativas, tendo trabalhado também na produção de gaviões e redes, no mesmo espaço onde funciona hoje o centro de transformação do lixo vidro e plástico em “puro luxo”.

Inicialmente, contou que iniciaram este trabalho de forma voluntária, em que faziam a recolha e traziam para o centro, mas depois de receberem as máquinas de transformação começaram a produzir alguns produtos que vendem, e os oito funcionários, seis mulheres e dois homens, hoje, usufruem de uma gratificação.

A funcionária explicou que o processo se inicia com a recolha da matéria-prima, depois separação e lavagem, para de seguida ser levado à máquina. Após a trituração fazem areia de vidro, vasos, pavê, blocos, utensílio de casa de banho, mas também, brincos, e outros produtos do plástico que transformam.

Hoje, conforme explicou, já consegue entender o bem que esta transformação faz à natureza e diz ter a preocupação de passar o legado aos filhos, que faz questão de tê-los por perto neste trabalho para aprenderem o valor das coisas, acrescentando que há dias que tem outros afazeres e é a filha que a substitui nestes momentos no centro de transformação.

Questionada se já é possível ver alguma mudança nas pessoas em relação à questão ambiental, garantiu que sim e que graças ao projecto a zona encontra-se mais limpa e as pessoas estão consciencializadas sobre a importância de preservar o meio ambiente.

Agora, Paula diz estar na posição de passar a mensagem de que “é possível encontrar outros meios de ganhar o pão de cada dia sem ter a necessidade de destruir a natureza”, pois, segundo a mesma, já passou pelas duas fases e não tem nada melhor do que “ganhar o sustento” com a “consciência tranquila” de que as suas acções “não vão prejudicar os outros”.

No mesmo grupo encontramos Elizabeth Varela, que agora trabalha na loja onde são vendidos os produtos transformados, e o seu primeiro emprego aos 15 anos foi a apanha de areia, uma profissão que exerceu por cerca de cinco anos na praia de São Francisco, como uma alternativa para debelar o desemprego e apoiar o avô no sustento da casa.

Declarou que esta tarefa era “sacrificada”, mas que era “a única opção” que via no momento, até as companheiras desistirem e viu-se obrigada a desistir porque num número baixo não era possível ter uma quantidade de areia que garantisse algum rendimento plausível.

Dentre outras actividades que foi desenvolvendo para “fintar” o desemprego e garantir o sustento, hoje encontra-se inserida neste grupo de transformação e consegue passar mensagens de sensibilização para a preservação da natureza, mas também mostrar exemplos práticos do que as más práticas no meio ambiente são capazes de provocar.

Diante dos testemunhos, a Inforpress contactou a Associação Cabo-verdiana de Ecoturismo (Ecocv), uma ONG sem fins lucrativos criada em 2015 com o intuito de entender o desenrolar da história da Ekonatura, e a coordenadora dos projetos, Edita Magileviciute, explicou que a micro-empresa comunitária foi criada pela Ecocv para a gestão do ecocentro de reciclagem de São Francisco.

O intuito, destacou, foi de capacitar e criar emprego para os membros da comunidade e 10 por cento (%) de cada venda dos produtos reciclados vai para o fundo comunitário do ecocentro, que depois contribui para apoiar as famílias ou atividades na comunidade.

Neste momento, referiu que a microempresa comunitária continua a crescer e juntos estão a desenvolver mais projetos para a comunidade de São Francisco, e outros municípios da ilha, em que a Ecocv continua a apoiar no trabalho de reciclagem e na sensibilização da sociedade sobre poluição e mitigação dos impactos.

Com esta iniciativa, a ambientalista salientou que no círculo dos parceiros e colaboradores a situação do plástico e do vidro tem preocupado mais as pessoas, e 80 % das famílias da comunidade de São Francisco se encontram envolvidas no processo da reciclagem.

Entretanto, lamentou o facto de ainda grande quantidade de plástico e vidro esteja a dar entrada nos aterros sanitários, defendendo que “é necessário iniciar a separação do lixo em casa, e ecopontos na cidade ou zonas rurais, e multiplicar ecocentros comunitários para reciclagem em outros municípios”.

Estas acções, enfatizou, “não só ajudam a limpar o ambiente, mas também criar empregos e servem como uma forte mensagem prática para aumentar a consciencialização sobre a poluição e as suas consequências”.

Sobre os impactos destes produtos na natureza mesmo após a transformação, a responsável observou que o vidro é um “material incrível” que pode ser reciclado muitas vezes e manter a qualidade.

Mas com o plástico, considerou, é “mais complicado”, explicando que “após ser reciclado quatro a cinco vezes a estrutura do polímero muda e perde a qualidade, além dos combustíveis fósseis utilizados na produção do plástico virgem, e o impacto no meio ambiente é muito forte”.

Daí, acentuou, embora a reciclagem ofereça uma solução de redução, é necessário reduzir o uso de produtos plásticos sempre que possível, a começar pelos sacos de plásticos.

A Semana com Inforpress

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