“Nós detetámos várias tentativas de enchimento ilegal de urnas. Alguns responsáveis fugiram e outros desapareceram”, declarou Manuel de Araújo, cabeça de lista da Renamo (principal partido da oposição moçambicana) em Quelimane, durante uma conferência de imprensa hoje na capital da província da Zambézia.
Em causa está o anúncio, hoje, pela Comissão Distrital de Eleições em Quelimane, da vitória da Frelimo (partido no poder em Moçambique) no município de Quelimane, que estava sob gestão do principal partido da oposição.
Manuel de Araújo, atual autarca, denunciou pelo menos “três casos concretos” de alegados membros da Frelimo que tentaram encher urnas, destacando a secretária provincial da Organização da Mulher Moçambicana (OMM), um braço do partido no poder, que foi detida alegadamente na posse de 15 boletins de votos preenchidos a favor do seu partido.
Segundo Manuel de Araújo, algumas figuras do governo local tentaram influenciar a decisão do juiz, que atribuiu uma pena de 30 dias de prisão, uma medida “branda”para o autarca.
“Nós vamos recorrer desta decisão porque, no mesmo dia, nas mesmas circunstâncias, houve duas outras pessoas que cometeram o mesmo crime e foram condenados a seis meses de prisão”, declarou.
Segundo dados dos editais do apuramento intermédio, a Frelimo venceu em Quelimane, na província da Zambézia, com 38.595 votos (50,45%), contra 35.086 (43%) da Renamo e 2.561 (3,35%) do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força política parlamentar, avançou o órgão eleitoral, numa conferência de imprensa sem espaço para perguntas.
A Renamo rejeita os números, frisando que está em posse de editais que provam a vitória do principal partido de oposição naquela autarquia que está a ser governada por Manuel de Araújo há dez anos.
Com estes resultados, que deverão ainda ser centralizados e, posteriormente, validados e proclamados pelo Conselho Constitucional, Lourenço Gani, 44 anos, cabeça de lista do partido no poder, assume a liderança de Quelimane, substituindo Manuel de Araújo, 52 anos, autarca que governou a capital da Zambézia por dois mandatos e meio.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) afirmou, na quinta-feira, que levou Manuel de Araújo para a esquadra, na madrugada, depois de constatar que o autarca estava a “perturbar” as assembleias de voto das eleições autárquicas, mas sem o deter.
O autarca queixou-se de agressão sem motivo, à ordem do comando da Unidade de Intervenção Rápida da PRM. A libertação, disse, aconteceu após a intervenção, na esquadra, de um procurador naquela província e quando centenas de populares também o exigiam na rua.
As sextas eleições autárquicas em Moçambique decorreram em 65 municípios do país na quarta-feira.
Pouco mais de 4,8 milhões de eleitores podiam votar nestas eleições, tendo a porta-voz do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE), Regina Matsinhe, assegurado à Lusa que se tratou de uma votação “ordeira e pacífica”, embora apontando “incidências ao longo do dia”.
Os eleitores moçambicanos foram chamados a escolher 65 novos presidentes dos Conselhos Municipais e eleitos às Assembleias Municipais, incluindo em 12 novas autarquias aprovadas por Conselho de Ministros em outubro de 2022, que se juntam a 53 já existentes, num total de 1.747 membros a eleger.
Nas eleições autárquicas de 2018, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) venceu em 44 das 53 autarquias e a oposição em apenas nove: a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) em oito e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) em uma. A Semana com Lusa