No primeiro semestre de 2008, segundo os dados do Inquérito à Movimentação de Hóspedes do INE, entraram nos estabelecimentos hoteleiros cerca de 166.649 hóspedes. Mas apenas uma ínfima parte, de que não se sabe exactamente o número, visitou um dos cinco museus, em funcionamento em todo o território nacional. A grande maioria desconhecia completamente a existência desses patrimónios histórico e culturais da vida de um povo.
Por trás desta falha está, reconhece Martinho Brito, a dessintonia entre os serviços estatais de gestão dos espaços museológicos e os agentes turísticos. “O turismo, enquanto vector de desenvolvimento, não pode estar dissociado da cultura, pois muitos turistas vêm ao nosso país não só para desfrutar do nosso sol e das nossas praias, mas também para conhecer Cabo Verde em toda a sua dimensão. Mas, pelos vistos, a maioria vem, fica por cá uns dias e sai sem efectivamente conhecer estes dez “grãozinhos di terra”, pois não têm encontrado esse tipo de oferta”, diz Martinho Brito, para quem os operadores têm uma palavra importante neste capítulo. Mas o Ministério da Cultura não terá a maior parte da culpa por esse estado de coisas? Sim, quanto mais não seja porque deve ser não só o guardião como também o maior divulgador do que Cabo Verde tem de mais genuíno, a sua alma.
Neste momento, existem algumas iniciativas isoladas de associar o turismo à cultura. Mas nada articulado, nem de muito especial. Mais se enquadram no capítulo de manifestações espontâneas esporádicas no tempo e dispersas no espaço. Por exemplo, a agência Fly, de S. Vicente, promove anualmente excursões por ocasião do San Jon, e as agências PraiaTur e Orbitur levam os seus turistas a visitar a Cidade Velha e, consequentemente, o Núcleo Museológico daquele sítio histórico –, mas um plano nacional de visita a museus, e em especial destinado aos turistas, isso não existe.
“Por um lado, precisamos mostrar aos agentes turísticos o nosso potencial em termos culturais e museológicos, e como absorver esse potencial nos seus programas para turistas. Por outro, nós e os agentes turísticos temos de estabelecer parcerias para a formação de guias turísticos na área cultural. Em resumo, todos temos a ganhar com uma articulação entre nós”, diz o director da Salvaguarda do Património. Mas existe um programa definido, um plano de acção? De quem partirá a iniciativa? São dúvidas que ficam.
Solucionados estes problemas, fica por resolver outro – o horário de funcionamento dos museus. Antes, diz Brito, “os museus estavam abertos de terça-feira a domingo. Mas a frequência era baixa e os custos elevados. Não tínhamos condições para continuar com esse horário. Por isso, foi suspenso”. E agora, os museus fecham porque não há dinheiro para os manter aberto. Então, porque continuar a pensar neles? Enfim, a sina da falta de dinheiro a continuar a perseguir a cultura. O resultado é que ela está, se não murcha, pelo menos amorfa.
E aqui destaque-se o caso do Palácio da Cultura que fecha exactamente quando as pessoas têm tempo para lá ir, aos sábados e domingos.
Mas, porque “cada caso é um caso”, como explica Martinho Brito, os horários dos museus estão a ser estudados e elaborados, de acordo com a dinâmica social da cidade ou vila onde se situam. E um dos factores a ter em conta é exactamente a frequência de turistas nessas cidades ou vilas.
A solução para o problema poderá inspirar-se, reconhece o director da Salvaguarda do Património, na decisão que o Centro de Emprego de São Vicente tomou visando aumentar o número de turistas que visitam as feiras de artesanato: mudou o calendário para fazer as feiras coincidirem com o dia de chegada dos navios-cruzeiros ao Porto Grande. E para nós, cabo-verdianos, as escolas, universidades, famílias, que dia fica para nós? Como fazer para criar o hábito de visitar museus? A pergunta que fica, mesmo que uma resposta insista em colocar-se. Primeiro os museus têm de ser museus de facto e não um depósito de coisas, em suma, precisamos dar dignidade aos museus. Reflexões que se impõem nas vésperas do dia Internacional dos Museus – segunda-feira, 18 de Maio e que Cabo Verde pretende assinalar com um lema “Museus e Turismo”.
Teresa Sofia Fortes