Este soldado, fleugmático, nem um trejeito faz ao chapéu marcial, em rigor boina jazente junto à bota esquerda; e desfila impávido e sereno, de testa calva a brilhar.
O Sem-Chapéu na narrativa (durante anos partilhada nas onze ilhas por sobrinhos; e que por aqui aguarda edição) teve um novo momentum este novembro, mês de Todos os Santos e do São Martinho generoso a partilhar a capa. Uma narrativa lendária de mais de mil e seiscentos anos para explicar o sol de verão em pleno outono europeu.
Perpassando do primeiro ao terceiro milénio, a explicação desta surpresa climática é ... alteração climática.
Mais colorida que o registo meteorológico, é a narrativa da capa que o futuro santo Martinho cortou ao meio para a dividir com um mendigo durante uma tempestade (pluvial ou de neve). Nessa mesma noite, o soldado romano Martinho que ascenderia à santidade — primeiro, recebeu o batismo e renunciou à milícia, fundou um mosteiro em França e mais tarde recebeu a ordem sacerdotal e foi bispo até à sua morte em 14 de novembro de 397 —, o futuro santo sonhou com Jesus vestido com a metade da sua capa, e rodeado de anjos, dizia: "Foi São Martinho catecúmeno [recém-batizado, iniciante na vida cristã] quem me agasalhou".