OS INTOCÁVEIS
Homesty is the best policy
(A honestidade é á melhor política)
Estava escrito nas estrelas que, no dia 1 de maio de 1974, as Filhas das Ilhas e os Filhos do Mar Azul, Hábitantes dos 4 033 Km 2, ilhéus-ilhas-basálticos «spaiód na mei» do Atlântico Médio, haveriam de protagonizar a mais simbólica e a mais singular e a mais ousada saga libertadora jamais vista no Planeta Terra: a do Campo de Concentração da Morte Lenta de Txom Bom do Tarrafal.
Naquela tardinha de 30 de abril de 1974, na cidade da Praia Maria, o camarada Jorge Querido mobilizou-nos: ‘amanhã todos a Txom Bom Tarrafal para libertar os últimos encarcerados da Campo da Morte Lenta do Tarrafal: E, coisa jamais vista, sob o céu tropical da Ilha Grande, eis que, no dia seguinte, a multidão alegre e ruidosa a uníssono, entoou com o épico Poeta-Profeta:
«Hora tita tchgá nhas gente/Hora d’alvantá quel mon/de cendê quel luz/de gritá quel grite que sô nôs sabê/Hora tita tchgá nhas gente!»
E sob o céu da ilha grande, as crianças soletravam liberdade e as mães entoavam liberdade e os pais proclamavam liberdade e os estudantes rimavam liberdade com o porvir enquanto os juristas advogados e magistrados acertavam papéis
Dentro do Campo, os atónitos encarcerados interrogavam-se: O quê? Liberdade? E logo depois entenderam que Txom Bom anunciava a Cabo-Verde o fim das mortes lentas e os dias da vida plena. Sem amarras. Sem grades. Sem frigideira. Sem holandilha. Sem guardas com armas de fogo, à ilharga.
E os portões do Campo de Conentração da Morte Lenta de Txom
Bom do Tarrafal escancararam-se.
E os Libertadores e os libertados encontraram-se num amplexo do tamanho das ilhas .
Como assim? Nenhum Herói? Sem guerrilha da Serra de Malagueta? Sem carros de combate? Sem bazucas? Sem metralhadoras? Cadê o exército colonial português? Cadê os aliados da NATO? Então o Herói Libertador era o Povo anónimo?
Virou-se a página do símbolo da ignomia e da dor e da solidão.
E eis que um dos símbolos maiores da opressão, transformou-se num
Museu Memorial da Resistência Internacional!
E, de braços dados, partiram para a aventura e a ventura do
DIA MAIOR and the DAYS AFTER...
Porém,
Onde há grandeza humana
Há também a miséria humana!
Entretanto no período da Reconstrução Nacional, como quem não queria a coisa, intrometeram-se no processo os oportunistas e os parasitas e os vendilhões do templo. Esse fenómeno exigiu uma capacidade de intervenção e de convencimento, ora brutal, primário e inescrupuloso, ora subtil e hábil, na criação de mecanismos de interpretação mais sofisticados, capazes de uma elasticidade de intervenção para alterar o conceito de economia dita estatizante para a chamada liberdade da economia de mercado não prevista pelos cânones do socialismo de inspiração de Amílcar Cabral e da escola do socialismo nórdico, personificado por Olof Palm.
Foi a inocência perdida no ocaso da economia social, justamente simbolizada pela icónica EMPRESA PÚBLICA DE ABASTECIMENTOS (EMPA). E em sintonia com a nova política global do novo governo, o MpD, conseguiu levar a mais extensa e intensiva e acelerada destruição dos alicerces sobre que assentava o edifício sonhado pelos discípulos de Amílcar Cabral.
Empreendimento possível pelo papel determinante, por um fenómeno novo, o status quo, ou seja, um poder informal nascido pela dinâmica da nova força política e do atarantamento do PAICV. E dentro desse novo poder, surge um outro, igualmente informal, fundamentistalista, que se movimenta como uma ala complementar ao sistema MpD, i. é, o poder REBENTOLA, identificado com os movimentos da extrema direita da Europa e dos Estados Unidos da América.
O PAICV regressa ao poder em 2001 para governar o País até 2016, altura em que perdeu as eleições, para o MpD. Desde então até os dias de hoje, o status quo, tem consolidado o seu poder de influenciação, nomeadamente nos sectores económico e legiferante.
Como ‘parte’, falhou em dois processos por razões que não cabem nesta crónica, quais sejam, o de Regionalização e o do Estatuto Especial da Praia.
Todavia a sua influência legiferante tem sido inegável, como nos domínios da Criança e da Mulher e, bem assim, na gestão Cultural, como tem sido o tratamento dado ao MUSEU MEMORIAL DO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DA MORTE LENTA DE TXOM BOM DO TARRAFAL ( ora sob análise específica).
Quais as razões que têm estado na origem da traição e hipocrisia para com as crianças? As razões radicam no incumprimento e desvios das responsabilidades e dos princípios jurídico-constitucionais. No meu dever de cidadão tenho denunciado e provado que são os Poderes Públicos, as Famílias e a Sociedade que não têm correspondido às exigências ínsitas na Magna Carta.
Partindo da base que os múltiplos entendimentos sobre a idade dos seres em desenvolvimento, têm causado erros consequentes, a maioria dos quais irreparáveis. (vide A SEMANA on line de julho de 2014 (CRIANÇAS) e nas edições de 2 de junho de 2018 e seguintes (TRAIÇÃO E HIPOCRISIA).
O conto volta atrás.
Jaime Ben Hare Soifer Schofield
(Continua numa outra edição deste jornal)
benhare@cvtelecom.cv